Crítica | INSANO



★☆☆☆☆
1/5

A influência de Kid Cudi no rap é extensa e inegável. Ao focar em uma lírica intimista, pessoal e emocionalmente frágil, o artista contradisse a presença forte do masculinismo no cenário do rap, inclusive servindo de inspiração direta para um dos álbuns mais influentes de todos os tempos: 808s & Heartbreak, de Kanye West. Como consequência, sua arte abriu as portas para uma geração de rappers mais artisticamente livres, com menos moldes estéticos estritos e mais espaço para a mágoa, o melódico e o melindroso.

Até os dias atuais vemos pessoas dizendo que a música do Kid Cudi salvou sua vida e vemos seus hits em clubes, no audiovisual e nas playlists de inúmeros. A questão é, depois disso tudo — mais especificamente, depois de 2010 — o que ele fez para expandir sua arte? Seus álbuns além dos dois primeiros Man On The Moon, o que há neles? Em 2024, qual o apelo de sua música? E temo, infelizmente, que a resposta amarga se encontre em INSANO, um projeto que esbanja uma liberdade horrivelmente utilizada e que possui as piores performances vocais do rapper até então.

Embora tenha algumas poucas faixas boas como “MOST AIN'T DENNIS”, “WOW”, “BLUE SKY” e “KEEP BOUNCING”, o álbum apenas conta com esses momentos agradáveis durante a inteira hora de duração. De resto, como um bolorento vazio cinzento, as músicas contam com decisões desprovidas de toque humano, de sentido e de estrutura, com beats sem textura e completamente descoloridos. Em outras palavras, o instrumental do disco é uma imensa, desbotada e oca espiral de desacertos e decepções — ou melhor, é o completo contrário de sua capa.

Entretanto, seria desonesto afirmar que a maior parte do instrumental é indiscutivelmente horrível da maneira descrita, pois a impressão que essa bagunça mal-intencionada causa é a da mais pura apatia, da mediocridade. As músicas são tão pobres de carisma que nem para provocar um desgosto a maioria faz, apenas existem para amontoar a tracklist e amaldiçoar seus sonhos com lembranças vagas de faixas totalmente sem identidade.

Porém, por mais que isso seja realidade, algo impossível de se amenizar é o quão mal Cudi soa no decurso das 21 faixas. Canta como um completo dessensibilizado, balbuciando de forma fragmentada e cantarolando de forma sonolenta, como se descomprometido com seu próprio fazer artístico e preguiçoso com seu livre arbítrio de “cantar sua felicidade”.

Por último, é lamentável dizer, mas INSANO pode ser o último prego no caixão da carreira de Cudi, que anda em declínio desde 2011. Ainda existe a possibilidade dele entregar algo elaborado, divertido ou verdadeiramente pessoal? Certamente, como já o fez em Man On The Moon III, de 2020, mas isso não quer dizer que todos seus outros projetos medíocres e horrorosos não existam, nem creio que este seja o último deles.

Selo: Republic, UMG, Wicked Awesome
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Pop Rap, Trap
Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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