Crítica | Ready To Be Tour - São Paulo


★★★★☆
4/5

O TWICE veio pro Brasil para duas datas na Ready To Be Tour. Eu estive presente no show do dia 7 e venho contar minha experiência.

Teve um ato de abertura com o VCHA, um projeto de grupo internacional feito pela JYP, mesma empresa de TWICE. Eu fiquei chocado que elas só cantaram três músicas e depois acabou, sabia que seria muito curto, pois o grupo não tem muito repertório — apenas 6 faixas no total — mas achava que iam cantar as b-sides também. Não gosto muito do que elas lançaram até agora, mas uma música em especial acho bastante divertida, “Ready For The World”, e gostei da performance desta. Diria que foi uma apresentação simpática.

Partindo agora para a atração principal, a setlist, na maior parte das vezes, funcionou muito bem para o show. A sequência “Go Hard”, “Moonlight Sunrise” e “Brave” foi surpreendentemente divertida. O dance break da primeira é realmente animador, enquanto a segunda na versão live soa muito mais intensa e a última teve êxito em reforçar, pra mim, como essa é uma canção pop extremamente cativante.

Nos solos pudemos perceber o talento de algumas das integrantes como instrumentista, principalmente Dahyun, com uma composição inédita executada com sua voz apenas acompanhada por ela tocando melodias de piano muito doces. “My Guitar”, de Chaeyoung, curiosamente foi um momento muito adorável, quando ouvi alguns trechos da canção na Internet confesso que achei um pouco tosca, porém no Allianz Parque essa faixa foi perfeita para ligar o lightstick ou a lanterna do celular e ficar balançando lentamente ao som da música. Já “POP!” de Nayeon conseguiu trazer uma energia eletrizante para o estádio.

A performance de dança de Momo ao som de “Move” de Beyoncé, com direito ainda a pole dance, foi um dos pontos altos da noite. Da mesma forma, Mina com “7 Rings” exalou grande carisma. Para o solo de Jeongyeon, particularmente preferiria ela ter performado “Juice” de Lizzo, que ela apresentou em alguns dos shows da turnê, porém cantar “Can't Stop The Feeling” de Justin Timberlake em solo brasileiro foi uma boa escolha, pois, por ter sido hit no país, ela conseguiu animar o estádio e fazer todos cantarem juntos.

Na performance de “Feel Special” houve uma grande surpresa: no meio da faixa as integrantes pararam de cantar para dar os holofotes à banda, que começava a acompanhar as músicas do show a partir desse momento. Algo interessante da presença de musicistas tocando ao vivo no concerto é que isso evidencia como o TWICE e a equipe trabalhando na turnê se mostraram empenhados em fazer das apresentações da Ready To Be Tour algo realmente especial. Muitos shows de k-pop se assemelham a simples apresentações nos programas de TV coreano — normalmente com as integrantes dançando com uma base alta que mascara quase todo o canto ao vivo —, a adição da banda, além de trazer um diferencial, deixou a experiência mais natural com as músicas soando mais potentes, ao contrário do que seria apenas com o instrumental de estúdio ao fundo.

Quando tocou “Fancy” – minha música favorita delas – não pude resistir a dançar e gritar do começo ao fim da música. Outro ponto alto foi “Queen Of Hearts”. Confesso que achava ela um pouco superestimada pelo fandom por achá-la um pop rock, embora divertido, um tanto genérico. Porém, ouvi-la ao vivo me convenceu de sua ótima qualidade. Talvez ao escutá-la no fone de ouvido a faixa não soe tão animadora, mas escutar TWICE cantando o refrão com os vocais poderosos e depois o pré-refrão envolvente no estádio foi uma experiência sensacional — é a prova de como o ao vivo às vezes pode melhorar alguma música.

Igual a em todos os shows da Ready To Be Tour, houve uma seção em que elas giraram a roleta e cantaram duas músicas surpresas. No dia em que assisti ao grupo presenciei alguns dos momentos mais cômicos dessa parte da apresentação de todas as datas da turnê. Enquanto o público gritava em público “Playstation” — referência ao programa Bom Dia e Companhia —, era sorteado a faixa “I'm Gonna Be A Star”. Ela é muito famosa no fandom por ser uma canção bônus do EP Page Two, que Nayeon detesta. O brilho dela sumindo logo após cair a ficha que teria que cantar por diversas vezes a linha “I'm gonna be a star” foi muito engraçado. Apesar disso, preferi as músicas do primeiro concerto no Brasil: “Do Not Touch” e “Doughnut”.

Dos pontos negativos, não posso omitir como tiveram péssimas escolhas na setlist. Dentre elas, a mais notável foi terem encaixado alguns dos maiores hits antigos do grupo em um medley e nem sequer tocar “TT”. Claro que por ser a turnê do mini-álbum Ready To Be ela iria focar nas músicas do EP e dos outros trabalhos mais recentes, mas em show de qualquer artista sempre tem alguns clássicos que não podem faltar. Talvez se reduzissem o tempo excessivo das interações, que são legais mas pararam o show por muitos minutos, houvesse tido tempo para cantar pelo menos algumas das faixas antigas essenciais do TWICE na íntegra.

Ademais, a sequência “When We Were Kids” e “Crazy Stupid Love” foi o momento mais entediante da apresentação. A primeira até que é fofa, porém a última é uma mescla pop rock com percussão trap medíocre. Tinham canções melhores em seus respectivos discos que fariam performances muito melhores como “Basics”, do Between 1&2, e “Wallflower” e “Got The Thrills” do Ready To Be. Mas mesmo com alguns pontos baixos na setlist, o grupo fez a noite do dia 7 de fevereiro no Allianz Parque ser extremamente divertida.


Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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