Crítica | PAST FUTUR.e



★★★½

PAST FUTUR.e adquire vida própria, correspondendo apenas à forma como sua estranheza é orquestrada.

Existem artistas tão imersos nas suas próprias complexidades, que mesmo optando por um sentido expositivo maior, quase desenhando para o ouvinte sobre do que se trata a sua música, a mensagem de seu produto ainda estará diluída.

Liv.e é um deles. Seu álbum de 2023, Girl In The Half Pearl, teve uma recepção mista por parte do público. Muito do que se dizia — e ainda dizem — sobre a obra era acerca da sua obviedade proposital na época, o que, para muitos, não era nada de especial.

PAST FUTUR.e surge disso. Dessa dificuldade em apresentar algo que, talvez, seja o suficiente para agraciar meia dúzia de pessoas. Mas, por sorte, Liv.e não o faz – pelo menos joga a isca. A mixtape, portanto, adquire vida própria, correspondendo apenas à forma como sua estranheza é orquestrada. O ponto de culminância, dessa vez, é o R&B deixado de lado, finalmente.

“Bad Girl!”, faixa que abre o disco, é quase toda feita para perturbar. São vocais gravados de forma esteticamente amadora, com repetições de gravações atmosféricas e um ruído incansável — tudo de melhor que uma música propositalmente opositora poderia proporcionar.

Em outros momentos, como em “Mashed Feelings”, de sete minutos, os vocais mal gravados retornam com força. Desta vez, estende-se entre palavras faladas e uma base que, mais uma vez, soa reciclada, repetitiva e incómoda.

É, talvez, o ponto mais importante de PAST FUTUR.e, pois condensa a ideia de passado e futuro de uma forma que equilibra o que os dois termos simbolizam quando usados como unidade de expressão. E há muita, muita expressão aqui.

Selo: Independente
Formato: Mixtape
Gênero: Experimental / Eletrônica
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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