Opinião | Ninguém no Pop é íntegro, muito menos a sua fave.


Precisamos entender como o pop funciona.

Ontem, a queridinha dos pop cults DUDA BEAT lançou seu terceiro álbum de estúdio, Tara e Tal, e revelou a todos que ele é uma total catástrofe. Não, pior que isso, ele é genérico. Sim, genérico, essa palavra em específico. Por ter escrito os amados Sinto Muito e Te Amo Lá Fora, que julgo ser trabalhos muito bons, com letras adoráveis e uma sonoridade alt-pop deliciosa, um véu de invencibilidade foi sendo costurado em torno da cantora.

Isso ocorre sempre que alguém faz um alt-pop ou art pop mais de uma vez, pois — por puxarem de influências que vão da música eletrônica ao rock e que escapam das fórmulas mais óbvias — cria-se uma persona de “criatividade inata” dada à imagem da pessoa em questão. Gente, isso não existe.

O pop existe porque é comercial, ponto. “Ah, mas a Dona Maíra Cristina, minha artista de pop brasileira queridinha, não tem essa de comercial, não!”, bem, a sonoridade que ela opta por investir em é moldada por completo pelo mercado, assim, ter feito essa decisão é, por conseguinte, aceitar, no mínimo em partes, o caráter mercadológico que define o que é pop ou não. Então, sim, xuxu, a Dona Maíra Cristina é moldada, em larga escala, pela indústria, por mais que ela use das mais obscuras referências e tente escapar dessa noção — ela não conseguirá.

E sim, é possível afirmar que existem artistas no pop que não fazem produtos genéricos, mas é impossível afirmar que algum deles possa levar o título de Intocado e Intocável Pelos Tentáculos da Indústria — os mais amados normalmente são os que moldam o gosto público e sensibilidade da época e, logo, moldam a indústria. Tudo depende da integridade artística do cantor, e parece que DUDA BEAT foi cooptada, forçosamente ou não, a largar sua originalidade e se entregar da cabeça aos pés aos genéricos. E é essa a palavra mesmo.

Olha, ela ganhou um disco que fará números surpreendentes por ter sido feito e publicado pela mesinha branca, oval e bem vestida da enorme gravadora Universal. Pena que, nesse contrato, só ela ganha, pois nós temos que ficar aqui com o gosto de pistache na boca esperando por um álbum de verdade. Pelo menos que sirva de lição para a próxima vez que colocarem um artista no pedestal, já que ninguém sabe quem será o próximo, pode ser a Pabllo, por exemplo (se bem que no BT2… melhor deixar quieto).
Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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