Crítica | Memórias Não-Recicláveis


★★★★☆
4/5

Manu Trovão, produtora baiana independente de hip hop, fez de seu disco de estreia, Memórias Não-Recicláveis, um grande palco para ovacionar os mais diversos cantos do Brasil. Além disso, preocupou-se ao máximo com a linguagem dos samples presente no gênero. Um pouco de funk, um pouco de forró, um pouco de MPB, um pouquinho do norte e do rap brasileiro (sudestino); a artista teve atenção aos detalhes exímios em apresentar o Brasil com tanta exuberância e graça.

Tal atenção ao detalhe também aparece nos instrumentais, cheios de pequenos elementos ásperos ou crocantes e de um dinamismo que torna a repetição, dos samples ou não, muito mais uma ferramenta de exibir os arredores, as atmosferas, do que o foco principal. É muito fácil se perder nos espaços sonoros, esverdeados e urbanos do projeto, da mesma forma que é facílimo exercitar a imaginação durante seus 50 minutos de duração e se impressionar com algumas decisões ousadas, mas sutis, dentro de faixas já pouco ortodoxas — principalmente quando se considera o quão entediante o boom bap tem se manifestado no Brasil desde a década passada.

Músicas como “A Mulher do Amanhã” exibem a liberdade e vontade intensa de quebrar os moldes do que virou sinônimo de ultrapassado no rap brasileiro, e são as vias em direção à espiritualidade das ruas de Salvador que fazem o projeto se concretizar como um dos lançamentos mais fascinantes deste ano. Creio que, por meio de Memórias Não-Recicláveis, a renascença tardia e apaixonada do boom bap no Brasil — paralela ao movimento “pós-boom bap” da Griselda, do drumless e de Roc Marciano — encontra nas mãos de Manu Trovão um abrigo de excelente qualidade. Embora o disco seja relativamente cansativo pela sua extensa duração, caso a produtora continue a ostentar paixão, movimento e inovação em projetos subsequentes, ela conquistará uma maioria com seu ardor artístico.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Hip Hop Instrumental, Boom Bap, Lo-Fi
Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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