Crítica | Roads That Go Nowhere



★★★☆☆
3/5

Uma rápida olhada no perfil de um artista country, você verá que as capas de seus álbuns ou até mesmo no nome de algumas músicas, podem ser decepcionantes. Os visuais são, em sua maioria, toscos e os títulos previsíveis e “brancos” demais. Em Roads That Go Nowhere, Travis Denning nos ensina a não julgar um livro pela capa, literalmente.

Travis Denning está em um caso muito comum para qualquer cantor estreante estadunidense. Alguns anos esquentando a carreira, primeiro com singles, depois alguns EPs, feats com nomes um tanto consolidados na cena até, finalmente, lançar seu álbum de estreia. No caso de Travis, seu aquecimento corroborou para que o cantor achasse uma forma mais interessante (musicalmente) de nos apresentar a sua personalidade — a palavra-chave para Roads That Go Nowhere, afinal, mesmo com alguns acordes genéricos, o álbum soa autoral e com diversos toques do artista.

O estilo adotado por Travis é o country rock, ou como ele mesmo repete em seu álbum, southern rock. A composição das melodias é o grande destaque do trabalho, que conta com eletrizantes solos de guitarra. Penso que o álbum possui um toque dos anos 2000, que nos teletransporta para alguma comédia romântica da época, uma nostalgia que, embora seja inofensiva, cria um ambiente diferente para Roads That Go Nowhere.

Enquanto explora o southern rock, Denning aproveita para imprimir a sua identidade como sulista de uma forma apologética. Veja, pelo contexto, o cantor não tenta se livrar dos estereótipos atribuídos ao country ou à região, mas abraça suas próprias tradições, como em “I Know How It Sounds” e em “Southern Rock”. Embora a autoafirmação de identidade possa parecer estranha para alguns, peço ao leitor que considere como os centros urbanos dos Estados Unidos veem a música country e o próprio Sul, como estes sendo um “bando” de caipiras que provavelmente vão se casar com algum primo.

No conjunto, o álbum não foge dos padrões atuais do country e cai na mesma redundância de temas que o gênero sofre. Entretanto, destaco mais uma vez a personalidade que Travis Denning teve em conduzir o seu trabalho, condução essa que gera uma surpresa genuína ao ouvinte que o desconhece. De fato, as aparências enganam! O leitor embarcaria nessa aventura sem ler esta resenha ou deixaria prevalecer seus preconceitos em relação ao gênero? Na música nada é o que parece. Ao mesmo tempo em que se apresenta formalmente a cena country, Travis Denning mistura o violão e fala com orgulho de suas raízes, já que ele foi criado no southern rock!

Selo: Mercury Nashville
Formato: LP
Gênero: Country / Country Rock
joão lucas

Potiguar, mulçumano e graduando em Ciências Sociais. Escrevo sobre o que me cativa e o que me apetece. Redator e curador de Folk/Country, Música do Leste e Sudeste Asiático e Pop/R&B no Aquele Tuim.

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