Crítica | ROOM UNDER THE STAIRS


★★★

Em ROOM UNDER THE STAIRS, Zayn se aprofunda em temas como paixão e paternidade, mas sem inovações — como era de se esperar.

Desde do fim do grupo One Direction, Zayn conseguiu se manter estável no mercado, sólido e possuindo músicas mundialmente conhecidas como “Dusk Till Dawn”. Após 3 anos desde o seu terceiro álbum de estúdio, Nobody Is Listening, que trazia sintetizadores e elementos de pop trap como principais fatores na produção, o solista opta pelo inverso e adentra o soft rock com elementos country em ROOM UNDER THE STAIRS, se assemelhando ao seu primeiro álbum, Mind of Mine, levando o ouvinte para a melancolia de um homem que não está tão apaixonado como antes pela sua amada.

O álbum começa ligeiramente bem, calmo e leve, o que resume grande parte das faixas, contendo a produção de Dave Cobb — ganhador de nove Grammy's — e co-produzido por Zayn. A faixa de abertura “Dreamin” aborda uma pessoa que sonha com sua vida, sobre a necessidade de mudar e que em certas partes, parece esquecer de seu amor por alguém. A música apresenta vocais diferentes para o pressuposto padrão de Zayn, mais graves e roucos, algo que às vezes soa meio forçado. “What I Am” questiona seus comportamentos viciosos no amor, nesta peça, Zayn experimenta vocais semelhantes ao gênero soul e com uma produção que traz elementos fortes do country nos instrumentais. Já “Grateful” é uma singela homenagem a sua filha Khai, fruto do relacionamento com a modelo Gigi Hadid. A canção apresenta uma composição que aborda a sensação de gratidão por ter sua filha ao lado dele e que com ela tudo ao redor parece estar bem.

Zayn busca, a todo momento, demonstrar uma história crua, sem muitas censuras e trazendo a dor de se sentir sozinho. A faixa “Alienated” o apresenta como alguém que não se encaixa mais no passado e segue em frente para o futuro e, novamente, é uma música leve na produção com um refrão meramente viciante, mas melancólico na sua composição. “My Woman” contém a produção deliciosa de Dave Cobb, entretanto, passa despercebida dentre as faixas anteriores. “How It Feels” aborda um rompimento de um relacionamento conturbado, Zayn implora que o deixe ir embora, sendo uma das faixas mais tristes dentro do disco.

ROOM UNDER THE STAIRS também abre espaços para músicas que já estamos acostumados a ver. “Stardust” é uma faixa com produção e composição que já conhecemos, algo normalmente associado com elementos do country; é uma dose de cor — o que não significa ser bom — dentro de tanto cinza na obra. “Falses Starts” impõe elementos de synth pop, abordando uma forte e arriscada mudança de vida, todavia, não é algo que se afasta do álbum quase que por completo, se tornando uma faixa que não agrada pela forma superficial que foi feita.

Já “Something In The Water” soa como algo de Justin Bieber. Com toque de sensualidade, é uma faixa pop que não brilha intensamente como deveria, ainda mais pelo ritmo que o álbum é conduzido, sendo completo em sua maioria por referências de soft rock e country. Além disso, há uma forte pretensão ao esquecimento como em “Gates Of Hell”, “Birds On A Cloud” e “Concrete Kisses” que facilmente poderiam ser descartadas no material final. Zayn finaliza o álbum com “Fuchsia Sea”, dando um basta no ciclo contínuo de sofrimento, querendo trazer novamente o ar, a liberdade e as cores de volta em sua casa, terminando assim um disco com poucos pontos altos e muitos pontos baixos.

ROOM UNDER THE STAIRS é um álbum que, apesar de ter boas músicas, acaba caindo na ambiciosa tentativa de Zayn de mudar o gênero musical em sua discografia, porém com medo de correr riscos. O disco perde muita coesão, sendo abastado por faixas feitas apenas para preencher lacunas, também perde um pouco de sua linha narrativa do meio para o final, reciclando ideias o tempo todo. Por fim, o retorno de Zayn à música após 3 anos não traz nada de novo. Esse era para ser o álbum mais pessoal de sua carreira? Quem sabe na próxima.

Selo: Mercury Records
Formato: LP
Gênero: Pop / Soft Rock, Pop Soul
Lucas Melo

Estudante de jornalismo, 18 anos. Amante da música e da cultura pop desde da infância. É crítico do Aquele Tuim, em que faço parte da curadorias de R&B e Soul.

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