Crítica | Silence Is Loud


★★★★☆
4/5

Hoje em dia, a presença do drum n’ bass na música pop não surpreende mais. Desde o ano passado, principalmente com o sucesso de Pinkpantheress e NewJeans, vários outros artistas tentaram utilizar esse som. Porém, Nia Archives vai além desses nomes que figuram o pop ou adjacentes, explorando uma vertente do gênero pouco abordada no mainstream, mas que foi extremamente essencial para a construção do ritmo: o jungle. Com excelente aproveitamento dessa sonoridade, a artista britânica consegue criar um disco verdadeiramente eletrizante.

O jungle possui características mais agressivas que, depois com o desenvolvimento do drum n’ bass, foram se diluindo na maioria dos gêneros. Dessa forma, o subgênero contava com breakbeats energéticos e caóticos, aos quais eram acompanhados de linhas de baixo ferozes, marcas que são apresentadas na produção de Silence Is Loud de maneira sensacional. Na introdução, guitarras distorcidas são justamente posicionadas aos arranjos eletrônicos formidáveis, criando uma canção arrepiante. “Crowded Roomz”, por exemplo, se destaca pelo jungle composto por uma aura sombria curiosa. O resultado disso é um dos momentos mais sensacionais de todos.

O registro chama atenção não apenas por ir contra a maré do mainstream ao utilizar do drum n’ bass, mas também por misturar muito bem referências de R&B com o gênero. “Out Of Options” é o melhor exemplo da maneira como Nia opera essa mescla. Nas composições, ela aborda, em diversos momentos, suas experiências nas relações sociais. Na primeira faixa, “Silence Is Loud”, a artista expõe o quão procura prezar pelo tempo junto com seu amado, e, quando ele não está por perto, é como se houvesse um grande silêncio: “And if I ain't got you around / Then I’m lost and I don't wanna be found / You're the only thing keeping me sound / And without you, the silence is loud”.

Já em “Cards On The Table”, ela fala sobre uma pessoa que gosta muito da companhia, e que se sente a vontade para botar tudo em jogo por ele. “When I'm with you, it's always fun, you make me feel so young / Hung up on you, you're one of one, you ain't just anyone / Your eyes are blue, mine are brown with a tint of hazel / Ain't no one like you, I guess that my cards are on the table”, canta no refrão.

“Crowded Roomz” contém a melhor composição da obra. Nela, a cantora manifesta de forma simples, mas apaixonante, o sentimento de solidão, falando que, embora rodeada de pessoas, isso não consegue suprir a sua sensação de estar só. A primeira linha da música, “I feel so lonely, especially in crowded rooms”, mostra que, diferentemente do que costuma se imaginar, esse sentimento piora quando ela está em locais muito cheios. A explicação para isso ocorrer pode ser identificada em outra parte do primeiro verso: “No one to turn to, they don't understand my blues”. Apesar de excelentes momentos líricos, é perceptível que o foco de Nia não está em criar letras muito bem elaboradas, mas sim em trabalhar com breakbeats de maneira criativa.

O formidável esforço de produção é suficiente para ela criar um dos álbuns mais importantes dentro da atual tendência do drum n’ bass na indústria musical. Nia segue uma direção diferente ao fazer uma abordagem mais intensa do dnb, com a bateria caótica e o baixo agressivo do jungle. É uma mistura perfeita e que combina com um caráter acessível e cativante entre os mundos explorados pela artista, que soa muito agradável tanto para o público pop e R&B quanto para os fãs de música eletrônica.

Selo: Islan
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Jungle, Liquid Drum and Bass, R&B Contemporâneo
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

Postagem Anterior Próxima Postagem