Crítica | Breathe… Godspeed


★★★★☆
4/5

Recentemente, quando escrevi sobre The Journey, do Dj Babatr, falei superficialmente sobre o quão extensa é a possibilidade de sons e ideias sobre a música eletrônica na cena latino-americana. Mais do que isso, é importante destacar como o vanguardismo opera de modo diferente aqui. Veja, por exemplo, como o nosso funk, apesar de muito comercial e popular, ainda atua com uma gama inusitada de experimentações que beiram o extremo. É desta forma, referindo-se a sonoridades por vezes tão comuns, que o colombiano Verraco (JP López) manuseia a sua procura pela vanguarda eletrônica além do norte global.

Como um dos nomes à frente do selo TraTraTrax, que inclui artistas como a brasileira BADSISTA, Verraco também é um excelente observador das pistas. Seu último EP, Breathe… Godspeed, visa diretamente o que parecem ser as tendências latinas que giram em torno de sua gravadora, portanto, a própria ideia de conter dentro de si o habitual, que para nós é o conhecido e às vezes até cotidiano, mas que, para algumas pessoas distantes da nossa realidade, pode ser a coisa mais inventiva e inusitada do mundo. O produtor brinca com essa questão e por isso, embora seja visto como meramente adequado, seu trabalho realmente surge como capaz de compor uma certa excentricidade, que contém o tempero específico advindo da sua latinidade — mas isso se deve à sua habilidade, em partes vista pelo jeito que ele transforma o que vem de fora em algo seu, com seu toque e suas próprias concepções estéticas.

Os loops quebradiços de “0∞”, quase infinitos, como o sinal no título da faixa, se expandem de acordo com as idas e vindas de López na esfera club em que o EP parece girar quando não se apega às suas raízes dub e ambient techno, sempre com os pés em outras referências intercalados com alguns ruídos e estalos sintéticos que ficam em segundo plano — ou apenas a percussão altamente oclusiva do hard drum num grau mais alastrado, como em “Godspeed>”. E por mais curto que seja (apenas 21 minutos), Breathe... Godspeed está muito bem alicerçado no que de melhor Verraco conseguiu condensar das suas raízes latinas (que vai do dembow ao raptor house), ao mesmo tempo que se inspira no que seus progenitores eletrônicos estabeleceram no passado como pioneiros — dentro ou fora de seus espaços, ocupado por uma intencionalidade distinta de ressignificar.

Selo: Timedance
Formato: EP
Gênero: Eletrônica
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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