Crítica | SUPERNOVA


★★☆☆☆
2/5

Jão tem se firmado como um dos nomes mais influentes do pop nacional, se mostrando touring force em um país onde isso não é tão comum. Sua nova turnê tem rodado em poucas datas, e todas esgotadas, por estádios no Brasil com estruturas imensas, pirotecnias elaboradas e um palco enorme. Na penúltima data da Superturnê no Rio de Janeiro, em um show para mais de 30 mil pessoas, o cantor paulista, em uma tacada à la Taylor Swift, anunciou no palco o lançamento de um novo projeto intitulado SUPERNOVA, uma extensão de seu quarto álbum, SUPER, lançado em agosto do ano passado.

SUPER, seu pior projeto, é também seu disco mais extenso, com quatorze faixas que agora recebem companhia de mais oito. Talvez o grande problema nele seja a tracklist extensa, com poucos altos e muitos baixos. Em SUPERNOVA, Jão tenta se redimir pelo excesso de baixas no álbum anterior, mas não demonstra nenhuma melhora significativa na qualidade.

Em SUPER, mesmo sendo redundantes e não demonstrando evolução lírica significativa, caindo sempre nos mesmos temas com ligações sutis entre si, as canções são expansivas e almejam a grandiosidade de um público em massa pulando junto. Mas para SUPERNOVA, que não necessariamente tem foco em ser tocado nos shows, esse não foi o caso. Mesmo assim, a falta de dinâmica em balancear o mais pop com o acústico, que é grande marca do artista, foi significativa.

Os destaques da nova leva são “Acidente” e “O Triste É Que Te Amo”. A primeira traz uma atmosfera noturna, contrária à sensação mais solar das produções de Jão e Zebu no resto do disco, com influência synthpop e um toque claustrofóbico de boate. A segunda centra toda a essência do que se espera de uma canção do Jão: menção à São Paulo, sexo, autoimagem e um verso que não faz sentido — e é a que mais se aproxima de seu formato de criação clássico dos discos anteriores, ainda contendo um coro e assobios, parte do sample de “Young Folks”, de Peter Bjorn and John.

Grande acerto do disco original, “Locadora (Versão Estendida)” tem mudanças na produção que se assemelham ao arranjo ao vivo, cedendo grande destaque à sua banda. Já o restante da obra não sai do mesmo. “Religião”, por exemplo, faixa que foi apresentada ao vivo com o anúncio do novo lançamento, sofre com uma produção pop com influência oitentista que não vai a lugar nenhum e não percebe que seria mais satisfatória em um cenário mais acústico. “Modo de Dizer” e “Supernova” se confundem com qualquer outro número pop do restante do disco. “Carnaval” é tão breve que passa despercebida. “Paranoid” é mais do mesmo, mas agora totalmente em inglês.

É difícil ver Jão, em seu auge, entregar um trabalho tão sofrido e inferior aos que o colocaram nessa posição. Seus discos anteriores mostravam uma construção linear, cada vez mais saindo do orgânico e explorando mais o sintético, e com SUPER, o cantor pareceu perder a mão. Em SUPERNOVA, ele apenas reforça isso. Resta torcer para que seu próximo trabalho apresente, de fato, uma redenção.

Selo: Universal
Formato: LP
Gênero: Pop
João Agner

joão agner (2003) é escritor e graduando de jornalismo. Escreveu sua primeira história aos oito anos, e tem explorado diversos formatos desde então, como não ficção e poesia. Decidiu que queria ser jornalista e falar de música quando ouviu o disco "Melodrama", de Lorde, pela primeira vez.

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