Crítica | Iris Silver Mist


★★★☆☆
3/5

Jenny Hval sempre se destacou por uma percepção visceral de ideias que fazem sentido dentro de seu contexto de experimentação pop — e essa talvez seja sua maior qualidade como compositora. Como cantora, numa perspectiva mais padrão do termo, seus vocais falam por si: suaves, carregados de uma leveza que, por vezes, torna tudo muito etéreo — até demais. É justamente por isso que seu novo álbum, Iris Silver Mist, soa excessivamente preso aos sentimentos que a artista busca evocar com base na união desses componentes que formam sua expressão musical.

Aqui, nos afastamos de suas experimentações mais ousadas no campo da música experimental tipo as quais ela traduz em discos como Apocalypse, girl, de 2015, para mergulhar em sons tomados por gravações de campo e uma sonoridade bucólica que emana natureza — e, muitas vezes, a imensidão do tempo. A relação entre esses elementos nasce da forma como o álbum foi concebido: uma viagem ao passado, sem se prender à nostalgia, inspirada pelo cheiro de um perfume homônimo que despertou em Hval uma paixão pelas fragrâncias que marcaram sua vida.

Há menos elementos de música eletrônica, como vistos anteriormente em The Practice of Love, de 2019, o que também contribui para que este disco soe menos destemido, por assim dizer. Sua abertura, “Lay Down”, remete aos trejeitos de Julia Holter — especialmente na maneira como gravações ambientais, voz e instrumentais se organizam numa espécie de sessão de jazz no interior colorido daquele livro de colorir, O Jardim Secreto. É um dos melhores momentos do álbum, ao lado de “I want the end to sound like this”, faixa de cinco minutos que remete aos melhores projetos de Hval em sua forma mais pura e, como dito no início, evocativa, e que não dura muito tempo.

Selo: 4AD
Formato: LP
Gênero: Pop / Art Pop

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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