
3/5
Seu mais recente EP, it went wrong, não foge à regra: um trabalho que brilha pela capacidade de amalgamar ambientação atmosférica e pulsos eletrônicos em um todo inquietante, mas que, paradoxalmente, parece recuar diante de suas próprias ambições. Se a brevidade do formato EP muitas vezes condensa ideias, aqui ela revela uma narrativa truncada, como um conto interrompido no ápice de sua tensão.
A abertura do projeto é promissora. As faixas mergulham o ouvinte em uma escuridão densa, quase palpável, em que os sintetizadores ecoam como suspiros em um vazio amplificado. A atmosfera lembra a imprevisibilidade de um labirinto sonoro, onde cada curva esconde uma nova camada de reverberação. No entanto, essa imersão é frequentemente quebrada por transições abruptas, como se o próprio artista hesitasse em aprofundar-se nas veredas que abre.
Em “fuckface”, por exemplo, há lampejos de genialidade: um diálogo entre distorções agressivas e melodias quase etéreas que cria um clímax hipnótico. Contudo, a faixa parece fugir de seu próprio ápice, dissipando-se antes de consolidar sua potência. É como assistir a um raio iluminar uma paisagem noturna, apenas para a escuridão retornar, mais espessa.
A comparação com trabalhos anteriores de Imagens como to my friend Messias Gabriel, é inevitável. Enquanto ali o drone era utilizado como alicerce narrativo — uma presença constante que moldava a progressão das faixas —, aqui ele se dissolve em fragmentos efêmeros. O gênero, antes empregado com precisão cirúrgica, torna-se um recurso esparso, diluído na tentativa de equilibrar ambientação sombria e eletrônica pulsante. O resultado é uma ambiguidade que, em vez de intrigar, confunde: as bases do EP parecem flutuar entre a introspecção meditativa e a agitação industrial, sem encontrar um eixo claro.
Há, ainda, uma contradição estrutural. Apesar da curta duração, o projeto sofre com uma falta de evolução interna. As faixas funcionam como cenas isoladas de um filme expressionista — individualmente impactantes, mas desconectadas na sequência. A transição entre elas não sugere um arco, e sim uma sucessão de experimentos que, embora tecnicamente competentes, não convergem para um todo coeso. É como se o EP fosse um esboço de algo maior, um prólogo que não ousa virar a página.
it went wrong é, portanto, um paradoxo: um trabalho que demonstra maestria na manipulação de atmosferas, mas que tropeça em sua própria arquitetura. O EP não é um fracasso, mas uma obra que, ao evitar mergulhar nas profundezas que ela mesma cria, termina por navegar na superfície de seu potencial — um convite fascinante, porém incompleto, à escuridão que poderia ter habitado.
Selo: SUBSUBSUB RECORDS
Formato: EP
Gênero: Experimental / Música Ambiente, Eletrônica