Crítica | “Olha o Tamanho Dessa Onda”


A nova música de d.silvestre, “Olha o Tamanho Dessa Onda”, que antecede o lançamento de seu novo álbum — sucessor do autointitulado, eleito por nós o melhor disco de 2024 — é uma união perfeita dos melhores elementos que ele explorou em seus últimos projetos. Trata-se, porém, da culminância exata, o ponto certeiro de uma liberação criativa que o leva ainda mais fundo em ideias distantes dos beats facilmente encontrados hoje no funk em diferentes contextos.

Não há um rompimento com o gênero, nada disso. É apenas d.silvestre em diálogo consigo mesmo, explorando o que pode fazer com uma textura mais sombria do que o habitual — e é justamente aí que “Olha o Tamanho Dessa Onda” salta desenfreadamente para a escuridão programada pelo DJ, que mistura tensão com tesão sem precisar de muito esforço. Seus menos de dois minutos de duração passeiam pelos versos de MC LELE 011, replicando quase perfeitamente a sensação de ser perseguido por um raio bola numa floresta de eucalipto às três da madrugada.

Sussurros, ruído seco, uma junção de kicks que remetem a “Taka Fogo em Kiksilver” e “Xeque Mate” ao mesmo tempo dão volume ao clima tenso, às caixas estourando, e a uma pressão tão silenciosa quanto os desfibriladores dubstep e ambientais de Burial. É uma faixa que aponta com precisão para a distância de d.silvestre — e de seu próprio ego — no funk. Vai muito além de tudo, mesmo em tão pouco tempo. Seria surreal, não fosse tão física, carnal.

Selo: Independente
Formato: Single
Gênero: Funk / Dubstep

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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