Crítica | Scanners


★★★★☆
4/5

Anthony Naples sempre teve um pé na música eletrônica de dança embalada por tons robustos de deep house e techno – o que distancia sua abordagem da superfície mais convencional desses estilos. Seu último álbum até então, Orbs, de 2023, reuniu parte das raízes do produtor nova-iorquino por esse caminho, mas flertou mais intensamente com a eletrônica experimental, fazendo uso de música ambiente, timbres atmosféricos e do dub techno dos anos 90. Seu retorno com Scanners parece seguir essa mesma direção, desta vez, porém, de forma mais acessível e com um foco nas pistas de dança como nunca antes.

Aqui, seu estilo de techno soa mais contemplativo do que em Orbs, como se observasse de perto e calculasse estrategicamente cada batida ao longo de mais de uma hora de duração. Ele mesmo diz que o álbum é “a versão do som como o ouço”, o que justifica essa sua personalização de tantas coisas que parecem acontecer ao mesmo tempo. “Hi Lo”, por exemplo, começa com um techno ambiente bastante noventista, mas vai ganhando corpo e se aproximando da atualidade do gênero – quando nos damos conta, estamos mais próximos de Skee Mask do que de Aphex Twin e Autechre, estes últimos parecendo ser evocados apenas nos momentos de maior calmaria. Essa dosagem entre épocas e artistas, substancialmente distintos e que se encontram aqui, é uma das maiores proezas de Naples: caminhar por diferentes direções enquanto permanece onde sempre esteve – é sua forma de atualizar a própria criação, mover as peças mantendo o mesmo jogo.

“Somebody” traz uma bateria frenética e um piano ríspido, com batidas espessas e volumosas que preenchem os ouvidos. Ambos numa produção mais desenvolta e próxima do habitual quando se trata de combinar house com techno sem soar exclusivamente como um ou outro. Nota-se por essas duas faixas que Anthony, embora recorra a uma construção mais dançante que no álbum anterior – mais voltada ao clube e, portanto, mais acessível – não abandona a robustez nem cede à facilidade.

Em “Ampere” está o epicentro dessa proposta. São oito minutos de elementos de dance e eletrônica que puxam sinais da veia experimental do produtor e se convergem sem jamais colidir, enquanto uma melodia vai sendo construída ao fundo com o que parece ser a música ambiente pela qual ele demonstra tanto interesse. É aqui que, mais uma vez, Naples abraça os anos 1990 sem se prender à nostalgia ou algo semelhante. Ele compreende como poucos aquele período em que a música eletrônica viveu sua maior efervescência técnica e estética, e trabalha isso em seu contexto – mais divertido do que nunca.

Selo: ANS
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / House, Techno

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

Postagem Anterior Próxima Postagem