
★★★★☆
4/5
Ae DJ Romano ZL, tá quebrando a barreira do som, hein.
É assim que somos introduzidos ao novo álbum do DJ Romano ZL, Sp In 2Kxxv, um dos lançamentos que melhor traduzem o sentimento de confronto diante das críticas ao funk, frequentemente descrito como cada vez mais ‘barulhento’, cujas mensagens e ideias de experimentação ecoam sem paradeiro. A vinheta em questão, mais do que escancarar a proposta do DJ em contrapor o próprio estatuto do que é o som, que muitos acreditam fielmente ser um elemento impossível de moldar sem respaldo em teoria musical, delimita de forma retórica os avanços que ele e outros nomes do funk paulista têm provocado.
É como se Romano estivesse na linha de frente de uma espécie de resistência, que preserva o instinto livre e indomado do funk. Por isso surgem, com cada vez mais frequência, álbuns inteiros e intensos do começo ao fim como este. São obras sem pausas, sem respiro, que rejeitam por completo beats minimalistas que sejam capazes de aliviar a carga explosiva de sons que escorrem por entre a octanagem pura do gênero. Eles mergulham em mares de estruturas convulsionantes e atravessam a galáxia do tuim num piscar de olhos. Por isso, aqui, tudo se constrói 100% ruído pelo ruído, um compromisso absoluto com o bom barulho.
Quando “Welcome To The Roma” começa, a única certeza é que, assim como grande parte desses discos e DJs que estão confrontando normas, Sp In 2Kxxv também propõe uma viagem ao âmago do funk paulista de vertentes mais avançadas. Mas o faz do jeito mais DJ Romano ZL possível: mesmo alinhado a outros que emergiram nesse contexto de evocação do barulho, ele carrega uma abordagem própria, expansiva ao extremo. Para ele, parece que quanto mais seco e rígido em suas engrenagens sonoras, mais eficiente será o impacto. Seus beats, garimpados nas masmorras do mandelão, soam como blocos de concreto. A dureza é a essência da pancada. E ele bate. Forte. É um disco de impacto, e por isso é genial.
Note como a sequência “Bruxaria Causa Briga”, com Mc Vuk Vuk, MC ZEUS e DJ Santiago, e “Agressivão no Casarão”, com Mc Vn, MC LELE e DJ M13 DA ZO, não teme soar exagerada, até mesmo maneirista. O que importa é a forma como ambas atingem o ouvido, o tímpano, toda a anatomia do órgão vestibulococlear por completo. Na primeira, há a completa efusão do tuim, uma manifestação (ou um escoamento) quase térmica e que cresce conforme kicks percussivos aderem às acapellas dos MCs, criando o que se entende como o beat agressivo em estado bruto: seco, direto, sem lubrificação. Já na segunda, essas repercussões são intensificadas, interrompidas apenas por disparos elétricos de um rebite que entra em combustão, de calor, antes de desconfigurar o tuim. É quase inaudível.
É nesses momentos que se revela uma ruptura clara com a ideia de ‘barulheira’ como algo sem direção. Porque não se trata disso. E, se fosse, tudo bem. Mas aqui há intenção, direção, propósito. A percussão estrondosa, os ruídos demoníacos que te arrancam do estado natural, exercem tanta força que evidenciam o quão à frente Romano está. Mesmo próximo de outros DJs, e Sp In 2Kxxv de outros álbuns, há um distanciamento inegável. Um distanciamento de tempo, inclusive. Não seria exagero dizer que DJ Romano ZL, o imperador do agressivo, esteja fazendo barulho desde 27 a.C.
Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Funk