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Recentemente, viralizou na imprensa a notícia de que cientistas haviam encontrado indícios de vida extraterrestre — um fato que repercutiu amplamente e reacendeu debates sobre o tema nos quatro cantos do planeta. Embora grande parte da discussão ainda seja dominada por teorias da conspiração, a descoberta em questão possui embasamento científico: trata-se da identificação de gases que, até onde se sabe, só surgem por meio de processos biológicos. Esses elementos foram detectados a 124 anos-luz da Terra, em um exoplaneta chamado K2-18b.
O novo projeto do produtor, músico, compositor e arranjador carioca Eduardo Manso brinca justamente com essa ideia de vida extraterrestre. No entanto, ele é mais sonhador do que os ufólogos e astrônomos de plantão: consegue dar forma à hipótese para além da questão do ‘existir ou não’. Em seu disco, Manso cria (ou recria) uma espécie de contato alienígena que supostamente ocorrerá em 2047, inspirado no famoso “Sinal Wow!” — um misterioso sinal de rádio captado em 15 de agosto de 1977 pelo radiotelescópio Big Ear, nos Estados Unidos, que entrou para a história como possível evidência de vida inteligente fora da Terra.
WOW, de Eduardo Manso, vai além. Busca traduzir em timbres acústicos e eletrônicos a experiência sensorial desse hipotético novo contato. A obra chama atenção não apenas por nos transportar para um plano cósmico e espacial, mas principalmente por transformar toda essa narrativa em música, evitando cair em maneirismos. Há uma robustez estética evidente em cada faixa: progressões melódicas minuciosas entrelaçam sons orgânicos e camadas tecnológicas, com baterias e baixos que dialogam com a emulação de radiofrequência.
É um domínio claro da intenção sonora de cada instrumento — especialmente em momentos como “UVB-76” e sua sequência dançante e reverberante. Ao alternar a intensidade do som, Manso transmite sensações profundas: medo, frio na barriga diante do desconhecido, do vazio — sentimentos que encontram eco em teorias como a da Floresta Negra, hipótese astrobiológica que sugere que civilizações alienígenas vivem em silêncio, como caçadores numa floresta escura, temendo serem encontradas.
É nesse espírito que a faixa final, “FRB 20220610A”, com seus oito minutos de duração, aprofunda ainda mais o clima de inquietação. Inspirada por ondas de rádio liberadas por uma explosão cósmica ocorrida há 8 bilhões de anos — com vestígios recentemente detectados por astrônomos —, a música serve de portal para uma experiência sensorial que é intensa e puramente arrebatadora. As vozes de Nana Carneiro da Cunha e Ava Rocha se expandem sobre a melodia guiada pelo saxofone barítono de Thiago Queiroz, ecoando pelo espaço-tempo como um épico que transcende a razão e desestabiliza nossa percepção do tempo.
Selo: QTV
Formato: LP
Gênero: Experimental / Eletrônica