
★★★☆☆
3/5
O Swans tem praticamente duas fases, que se separam pelo hiato – que a princípio não era hiato, mas término – de quatorze anos entre os discos Soundtracks For the Blind, de 1996, e My Father Will Guide Me Up a Rope to the Sky, de 2010. As duas fases são menos sobre sonoridade do que apenas tempo, já que a primeira iteração tem uma variedade quase cômica de estéticas, desde um Noise Rock e um quase Pigfuck no início, em 1983, até gothic rock, neofolk e sound collage nos trabalhos mais tardios. O trabalho de Michael Gira e associados tem talvez uma constante só: as letras e a composição são especialmente vulgares, depressivas e sombrias.
A segunda metade, no entanto, é bem mais uniforme em seu escopo. Os sete álbuns lançados desde 2010 têm um foco progressivo em um post-rock que se tornou uma marca registrada do nome Swans na nova geração, talvez em detrimento – conforme o tempo passa e Michael envelhece, a impressão de cansaço e de falta de algo novo à dizer se torna cada vez mais pungente.
E cá estamos em Birthing, o mais novo trabalho da banda quase-de-um-homem-só, que promete, segundo seu idealizador, ser um ponto final na sonoridade colossal e empenhada em grandes espaços sonoros, investindo portanto numa visão mais contida e recatada em trabalhos futuros (vide o nome Birthing, nascimento em inglês). E, enquanto a promessa nos revigora, o presente pesa na ideia de que o cânone Swans pós-2010 já disse o que tinha no coração, na alma e no âmago, ainda que Gira tente procurar ainda mais fundo por um outro cerne.
Birthing tem duas horas, sete faixas, que variam entre sete e vinte e dois minutos, todas espaçosas, vagarosas, não no sentido de lentidão, porque Swans faz questão de preencher cada minuto com alguma coisinha que seja, mas de tomar seu tempo – a música progride à seu passo, não muito ansiosa para chegar em seu ápice. The Healers, a faixa-abertura, tem vinte e um minutos que vão e vão até uma resolução grandiosa nos últimos cinco, e apesar disso, nada ali diz novidade, ou representa algo que não tenha sido martelado aos ouvintes nos últimos quatro álbuns.
“I Am a Tower”, a faixa seguinte, faz menção à “Heroes”, de David Bowie, num quaaaase Krautrock, cintila sobre um outro quase Gothic, fala e fala sobre um egocentrismo, remete ao falo (torre…) se engrandece sob a pena de perder a si mesmo. Mesmo assim, fica a impressão de que nada muito marcante e memorável aconteceu ali nos vinte-e-poucos minutos.
A faixa-título remete ao útero, em “Red Yellow”, à morte e ao nojo. E acaba ali a primeira metade, com uma interrogação grande sobre os assuntos que já foram outros assuntos em outros álbuns da primeira e da segunda fase – Helpless Child (1996) fala de útero, de gestação e de nojo, Better Than You (1991) de egocentrismo e autoflagelo, Power for Power (1983), de sexo, poder e corrupção. Me parece que, quando Gira tinha menos a dizer, como quando era mais no-wave do que post-rock, seus sentimentos eram mais sinceros, seus assuntos menos repeteco, e mais sangue.
A metade posterior dá uma revigorada, ainda que os temas sejam de forma ou outras os mesmos de The Beggar, The Glowing Man e leaving meaning, que são os três álbuns e sete anos anteriores. “Guardian Spirit” é assustadora, e remete (no bom sentido) à To Be Kind, de 2014; “The Merge” poderia ser encaixada com algum esforço em Soundtracks for The Blind, enquanto que “(Rope) Away”, que são duas faixas em uma, deixa uma conclusão satisfatória, ainda que a satisfação seja mais da segunda metade do álbum.
Os momentos bons de Birthing são simulações não intencionais de outros momentos bons de outros álbuns melhores da banda, as letras são a versão mais melindrosa de outras letras mais velhas. E para um álbum que remete ao nascimento, me parece um tanto tacanha a escolha estética mais-do-mesmo. O Swans moderno tem um leva de fãs fiéis, que se acostumaram a receber versões mais escrachadas de The Seer e To Be Kind álbum após álbum, e levantar essa discussão é dar murro em ponta de faca – são duas multidões diferentes, a pré-hiato com uma visceralidade e com cabelo, à essa altura, mais grisalho, e a garotada que se acostumou com esse estilo novo e tem resistência a largar mão.
Selo: Young God
Formato: LP
Gênero: Rock