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MARINA, que ficou inicialmente conhecida como Marina & The Diamonds, ganhou destaque pelo sua música pop com charme vintage e um toque teatral que construía uma personalidade artística forte dentro do cenário pop da época, meados do início da década de 2010. Isso era especialmente evidente em sua estreia, The Family Jewels, mas também em Froot e, posteriormente, ela retornava com intensidade nessas características com Ancient Dreams In A Modern Land.
Em seu novo registro, PRINCESS OF POWER, há um esforço para resgatar os elementos-chave de sua música, no entanto, o resultado aqui parece desleixado, como se MARINA tivesse perdido de alguma forma sua habilidade em trabalhar com essas características. Muitas das escolhas musicais apresentadas ao longo do registro são toscas, de um grande mal gosto. No final, PRINCESS OF POWER mostra MARINA se auto-parodiando, em uma auto-referência rasa, que aqui se apresenta ausente de uma perspectiva criativa mais expressiva.
Quando em discos anteriores a artista se expressava a partir de um tom dramático, o resultado era interessante à beça, isso porque MARINA demonstrava uma abordagem inteligente nesse sentido, com escolhas musicais que fortaleciam suas ideias, como como uma diva opositora na música pop. PRINCESS OF POWER, por sua vez, é dolorosamente brega em muitos momentos pela falta de bom senso estético. “BUTTERFLY” é marcada por melodias estridentes na instrumentação e no gancho, principalmente pelo tom infantil e a tentativa de construir um ambiente mágico, como se fosse um mundo de fadas. “ROLLERCOASTER”, além de desinteressante em quase toda sua totalidade — no máximo a bateria ruidosa nos versos é instigante, mas não evolui para nada mais sólido —, é insuportavelmente repetitiva, como uma montanha-russa, de fato, mas com diversos loops que dão a sensação de nunca acabar e, no meio da viagem, faz você se sentir nauseado.
“EVERYBODY KNOWS I'M SAD” tem um sequenciador com ritmo repetitivo e rápido no refrão, mas ao invés de soar envolvente, a melodia é cansativa, igualmente ao seu gancho que acompanha esse momento da instrumentação, com sua repetição enjoativa. Nada, entretanto, consegue ser tão exaustivo como “HELLO KITTY”, uma balada synthpop instrumentalmente pálida, com seus sintetizadores chatos e que se repetem durante a música sem qualquer mudança, acompanhado da composição mais vexatória de todo o registro: “Hunt you from afar like a jaguar / 'Til you say / Hello, kitty, make me go rah-rah”, é de sentir dor física de tanta vergonha alheia.
Acredito, todavia, que no meio de diversos desastres há alguns bons destaques. Esses se caracterizam por momentos pontuais em que MARINA consegue apresentar uma abordagem adequada para suas propostas musicais. Isso se dá por uma boa execução do caráter brega, em um sentido que consegue manifestar a teatralidade excessiva de sua performance e elementos sonoros com o tom descontraído, o que constrói uma atmosfera propositalmente boba que é muito bem-vinda nessas faixas. “CUNTISSIMO” em especial, é uma das músicas mais ridículas do ano, e também uma das mais divertidas. Electro-disco tomado por sequenciadores absurdamente energéticos — mais que o usual no hi-nrg —, junto a orquestras com um ar grandioso e um gancho repetitivo ao extremo, apresentando um ambiente despojado e animado. Esse efeito ocorre similarmente em “PRINCESS OF POWER” e “I <3 YOU”, canções que tomam referências da música disco e trazem uma aura divertida e marcada por aspectos que tem a sensação de grandiosidade e expressividade.
Acredito que o registro poderia apresentar uma qualidade muito mais satisfatória se, em sua totalidade, trabalhasse com as referências das canções destacadas. Há no geral uma falta de habilidade em explorar sonoridades que façam bom proveito de suas ideias musicais e, por isso, mesmo que MARINA abuse de elementos-chaves de sua persona artística para criar uma conexão com os apreciadores de sua arte, o resultado é medíocre. É de fato uma cópia sem substância do trabalho da própria artista, um retrato distorcido do que MARINA um dia já representou.
Selo: Queenie Records
Formato: LP
Gênero: Pop