
★★★★☆
4/5
Addison Rae teve uma trajetória curiosa dentro da música pop. De início, ela era vista como uma frívola celebridade do TikTok tentando capitalizar com música genérica e sem personalidade, lançando em 2021 o single “Obsessed”. Apesar disso, ela protagonizou uma das reformulações artísticas mais surpreendentes e efetivas dos últimos anos. Apresentando um bom gosto musical e conhecimento sobre cultura pop, Addison começou a chamar atenção do público antes mesmo de lançar novas canções e iniciou uma caminhada gradual para sua evolução artística. O EP de descartes AR, foi o primeiro passo dessa fase, trazendo um dance-pop simples, mas que demonstrava boa noção de como pautar a música pop.
Agora, após o lançamento de cinco singles, todos muito bem-recebidos pelo público, Addison Rae apresenta seu disco auto-intitulado, Addison, uma coleção de faixas excelentes que consolidam sua maestria neste espaço recém explorado por ela. Trata-se de um registro que não se interessa por nada além de ser um álbum pop de excelência, e a cantora não poderia ter escolhido caminho melhor para conduzir sua carreira. Addison demonstra apreço por boas ideias de ritmo — o faz sempre com uma precisão de dar inveja a qualquer veterana —, um gosto musical refinado, sem soar como paródia de suas influências, como Tate McRae costuma fazer, e habilidade para construir composições que enfatizam o caráter acessível do som, seja banalizando a latência afetiva (“I don't want cheap love / I'd rather get high fashion”) ou discorrendo sobre a fama (“Fame is a Gun”). Assim, ela reúne quase todas as principais competências para fazer música (pop) de alta qualidade.
Parte desse acerto de Addison está na maneira como ela estudou, sim, sentou numa mesa, abriu o livro (no caso, o catálogo de vários artistas estranhos para o mainstream) e começou a pensar, calcular e ver o que talvez lhe rendesse bons frutos. É por isso que o disco incorpora diversas influências do alternativo, apresentando-se como um álbum com visão musical ampla e que, apesar de um apelo superficial evidente, completamente normal no demográfico em que ela está inserida, adota abordagens pouco convencionais dentro desse espaço. Isso geralmente se manifesta em canções com uma atmosfera etérea, marcada por sintetizadores arejados e performances vocais suaves, que triunfam numa esteira própria, sussurradas. A produção segue a linha típica do alt-pop, mas se destaca em várias faixas por sintetizar os melhores elementos do subgênero, especialmente em “High Fashion”, “Diet Pepsi” e “In The Rain”.
É, sobretudo, um álbum eclético, recheado de sonoridades e movimentos musicais distintos, e por isso está longe de se limitar apenas a essa abordagem focada no alternativo. Os melhores momentos são aqueles que bebem da fonte dos anos 90, utilizando muito do trip-hop e downtempo, especialmente em “Times Like These” e “Headphones On”, melhores canções do disco, há também o deep house que relembra a cena noventista, na faixa “Aquamarine”.
São essas referências excelentemente exploradas que tornam Addison um álbum pop que, apesar de não ter grandes pretensões, é extremamente rico. Justamente porque Addison Rae não se leva a sério ao surfar na cauda do cometa Madonna dos anos 90, com Ray of Light, ou ao se aproximar do que Grimes outrora propôs — quando foi a última vez que alguém fez isso com tamanha naturalidade? Trata-se de um registro que realiza com maestria as principais características da composição pop, sobretudo na criação de ganchos, e que, além disso, evidencia as sólidas inspirações musicais de Addison Rae. O principal objetivo da cantora é, assim, plenamente alcançado: consolidá-la como um novo nome fervoroso na música pop.
Selo: Columbia
Formato: LP
Gênero: Pop