Crítica | Wild and Clear and Blue


★★☆☆☆
2/5

O trio I'm With Her apresenta em seu novo trabalho uma reafirmação das qualidades já consagradas: a espontaneidade das improvisações instrumentais e uma performance vocal que prima pela competência e harmonia. Ancoradas na música americana e do bluegrass, as artistas oferecem uma paleta sonora que, embora reverencie arquétipos estabelecidos, o faz com uma destreza palpável e um respeito evidente às suas raízes.

O folk atravessa um momento curioso no panorama musical contemporâneo. Frequentemente, percebe-se seu emprego quase como um artifício nostálgico em produções que flertam com o country e o blues – uma conexão histórica que, por vezes, ofusca sua autonomia. No entanto, neste álbum, observa-se uma subversão gradual dessa tendência; ainda que sem uma ruptura definitiva, confere-se ao folk um protagonismo crescente, explorando suas texturas e narrativas com maior intencionalidade. Esse aprofundamento na música americana parece ser a nascente de certas convenções que permeiam o disco, resultando, em momentos, uma diluição de narrativas que tentam sair do comum do gênero

A narrativa do álbum encontra seu alicerce mais sólido nos arranjos instrumentais, trazendo deles uma beleza por vezes inquestionável, e mesmo quando tangenciam o familiar, sustentam-se por uma qualidade técnica. A riqueza dos instrumentais, proveniente de um arsenal que inclui violino, violoncelo, guitarra, órgão, banjo e violão acústico, é fundamental na construção de uma atmosfera imersiva e coesa em seu aspecto puramente sonoro. Contudo, essa ambientação cuidadosamente elaborada pelos instrumentos vê-se, em alguns trechos, desafiada pela sua própria estrutura composicional.

As composições, integralmente assinadas pelo trio Sarah Jarosz, Aoife O'Donovan e Sara Watkins, por vezes hesitam em consolidar um fio narrativo robusto que percorra e sustente a totalidade da obra. As intenções e sensibilidades individuais, embora ricas, parecem ocasionalmente convergir para um panorama de algo difuso, onde lampejos de eixos temáticos ou progressões conceituais emergem, como a reflexão sobre renovação seguida por uma evocação memorialística a ícones musicais, mas nem sempre se desdobram com a consistência necessária para unificar o álbum como uma peça a ser observada de maneira conjunta. Essa irregularidade é, por vezes, acentuada por certas escolhas líricas que podem resvalar num sentimentalismo que, embora muito característico da música americana, nem sempre se traduz com o mesmo impacto para todos os ouvintes, podendo soar desfocado e clichê.

O álbum oferece momentos de genuíno deleite auditivo, ancorados na excelência técnica e na sinergia evidente do trio. A mestria instrumental e a beleza das harmonias vocais são trunfos inegáveis que convidam à audição. Todavia, o potencial pleno dessa união parece ser, por vezes, contido por escolhas composicionais que tendem à convenção e por uma certa dispersão conceitual que impede a obra de atingir um patamar de coesão lírica e temática mais impactante.

Selo: Rounder Records
Formato: LP
Gênero: Folk / Americana, Bluegrass
Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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