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O mainstream do funk paulista hoje é um espaço vergonhoso se comparado às raízes do gênero. E não apenas por questões musicais, estagnado em produções que replicam tendências com pouca ou nenhuma profundidade, mas também por aspectos temáticos e narrativos. O atordoamento político, pendendo para o neoliberalismo e o discurso de correntes religiosas protestantes, é evidente. Um dos maiores MCs do momento, por exemplo, é um ex-pastor evangélico. Ainda assim, há pontos de inflexão importantes que merecem atenção.
O novo álbum de MC IG, Feliz no Simples 🍀, é um desses momentos. Aqui, tudo que compõe o funk paulista atual está presente, mas sob uma perspectiva diferente. Mesmo quando canta sobre aparentes futilidades ou encara fantasmas como a inveja e o mau-olhado, IG o faz a partir de um lugar de verdade, de vivência. Isso não só justifica esses temas como os aprofunda e os coloca em outro nível de escuta, do público dele ou de quem o vê de fora.
Somam-se a isso estruturas melódicas que flertam com o hip hop, com destaque para os pianos e bases em faixas como “Não Vou Me Comprometer 🍀” e “Ta Rico Os Menino Do Gueto 🍀”. Esta última, além de ser o maior hit do funk em 2025 até agora, chamou atenção por trazer uma leve nostalgia ao remeter, em certos trechos, a “Don’t Matter”, de Akon, especialmente no verso: “Tá rico os menino do gueto, ela senta demais pros jogador / Nave de cinco milha nos beco / Tem nada não, doutor, no enquadro”.
Em outros instantes, Feliz no Simples 🍀 se repete, variando basicamente nas rimas, ainda que bem construídas. O fato de estarem ecoando em tantas comunidades do estado mostra que, de tempos em tempos, algo significativo ainda emerge do espaço mainstream. MC IG não subverte as lógicas, está bem longe disso na verdade. Ele aposta em faixas longas para recriar o formato dos “sets” que dominaram o Spotify no ano passado. Mas há, aqui, algo genuíno. Uma identificação que ultrapassa o desejo de riqueza ou de “fugir da quebrada”. IG canta, em várias passagens, sobre como passou a ser valorizado apenas após enriquecer, escancarando uma realidade racial que, apesar de tudo, segue sendo a realidade.
Selo: Warner Music Brasil
Formato: LP
Gênero: Funk / Trapfunk