
★★★☆☆
3/5
No universo do funk, especialmente nas suas vertentes mais experimentais e digitais, as "bolhas" são mais do que um efeito sonoro: são um estado de espírito. Esses sons – que podem vir em forma de synths líquidos, efeitos de reverb prolongado, filtros que abafam ou distorcem o beat – criam pequenos espaços de suspensão no meio da batida. As bolhas funcionam quase como "microclimas" dentro da música: instantes em que o ritmo se dilui, se dobra ou se fragmenta, antes de retomar sua força. São efeitos que quebram a linearidade do funk tradicional e introduzem uma camada mais atmosférica, muitas vezes associada à estética digital, ao hyperpop ou à música ambiente.
Em Bolhas.mp3, DJ JEJEDAZS transforma esses efeitos sonoros em linguagem: ruídos sutis, vozes distorcidas, ecos e reverbs que criam uma sensação de flutuar. O EP, lançado recentemente, conta com cinco faixas que conectam ecos de vaporwave, trap ambiente e funk fragmentado, e trabalha em conjunto à experimentações de produtores como DJ KOJI DA VL e DJ Lipe da VR.
Cada faixa do EP funciona como uma cápsula sonora independente, mas interligada por uma estética de suspensão e colapso. Ao invés de conduzir o ouvinte por uma sequência linear de batidas, Bolhas.mp3 propõe uma escuta mais dinâmica, dispersa e distante dos arranjos variados de sons e estéticas que ele havia explorado em seu disco Bradock, Vol.1, lançado no começo do ano. Aqui, os elementos aparecem, se desfazem e reaparecem em novas formas. Há uma lógica mais próxima da deriva do que da progressão: como se cada bolha estourasse para abrir outra, e assim sucessivamente. É um disco menos expansivo, mas ainda assim muito divertido e com boas bases no espaço em que se insere.
O uso das vozes, sempre filtradas, recortadas ou comprimidas, é central nesse processo. Elas não servem apenas para comandar a pista ou marcar o compasso, mas para desestabilizar, tensionar, evaporar. São vozes que vibram na frequência não apenas da ordem. A mixagem e a produção de JEJEDAZS não buscam polimento, mas textura: há chiado, sobra, falha, e tudo isso faz parte da estética da bolha.
O EP sugere sensações, e flui trabalhando com a presença e a ausência dos sons ao mesmo tempo. Nesse fluxo constante, o ritmo não se impõe de forma linear, mas se dissolve, dobra e reaparece de maneira imprevisível, mantendo o ouvinte em um estado de atenção contínua e sensível às variações mínimas. Essa abordagem confere ao trabalho uma dimensão quase tátil, em que cada bolha sonora funciona como uma pulsação que pulsa e desaparece, propondo uma nova forma de sentir e compreender o funk, não apenas como dança, mas como experiência sensorial e narrativa em movimento.
Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Funk / Beat Bolha
Formato: EP
Gênero: Funk / Beat Bolha