Crítica | Scratch It


★★★★☆
4/5

A prestigiada compositora de música pop Meg Remy, sob o projeto U.S. Girls, retorna com seu novo álbum, Scratch It, um amontoado analógico de rock-gospel-soul-country gravado a partir de uma apresentação dela em um festival em Hot Springs, Arkansas. Diferente de quase tudo que ela já fez, um dos aspectos mais interessantes aqui é a forma quase empírica em que letras e melodias se constrõem. São acordes de guitarra guiados pelos vocais afinados de Meg, que se misturam com dedilhados de piano e componentes estéticos-surpresas feitos através de poucos tratamentos de estúdio, como a gaita de Charlie McCoy, uma lenda viva que já tocou com Elvis, Bob Dylan e Roy Orbison, entre outros. E, apesar de chamar atenção por uma banda robusta, Scratch It equilibra o pêndulo soando modesto, compacto, e com as emoções organizadas em torno de elementos-chave.

Mixado em fitas e gravado ao vivo, o disco se esforça o tempo todo para soar pouco complexo, ainda que rico em suas dezenas de abordagens sonoras que vão do country, como em “The Clearing”, ao gospel rock cinematográfico de 12 minutos de “Bookends”, que mesmo soando épico, está longe de ser. Mais surpreendente que isso apenas o uso de referências pessoais, como quando Meg canta sobre o que sentiu ao perder uma apresentação de Patti Smith em “Dear Patti”. No fim, Scratch It não termina como se ali se encerrasse uma jornada, mas sim como uma clareza de sentidos, uma ênfase no processo de criação regado de paixão à música analógica, empoeirada e um suspiro terminante do quão tentador ainda é o trabalho do U.S. Girls em matéria de tornar o espaço em que orbita mais bem-apessoado.

Selo: 4AD
Formato: LP
Gênero: Rock / Singer-Songwriter, Soft Rock

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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