Crítica | Tropicoqueta


★★★☆☆
3/5

Tropicoqueta é o álbum mais diverso, bem construído e divertido de Karol G. Aqui, a artista embarca em uma aventura que passa por diversos ritmos latinos populares, se afastando da limitação do reggaeton. Sob esse prisma, a cantora, apesar de se manter geralmente no superficial na exploração desses estilos diferentes, cria disco rico de referências que executam clichês da música latina de maneira efetiva, ao incorporar o que melhor funciona desses gêneros.

Tropicoqueta vai de influências da bachata, cumbia, mambo, mariachi e, até mesmo, ritmos brasileiros como a bossa-nova e o funk de BH, mas também traz seu som reggaeton característico. Esse é um registro que, ao explorar diferentes abordagens da música latino-hispânica em um contexto sempre pop, se aventura em diferentes eras do latin-pop e, por isso, são diversas as canções que remetem, não só ao período atual da produção industrial desses estilos, mas também ao que foi característico de outros momentos.

É nesse sentido que a superficialidade das referências apresentadas funciona e se torna um repertório que é, na verdade, bastante forte – é um disco que não se aprofunda nesses ritmos, mas é muito bem centrado na diversidade de abordagens que se destacaram na música pop latina, o que nesse contexto pode ser aceito por uma visão menos aprofundada e mais acessível, até mesmo por conseguir ser facilmente comerciável não apenas para o público latino, mas internacionalmente.

Diante disso, os melhores momentos, de longe, são “Ese Hombre Es Malo” e “No Puedo Vivir Sin El”, duas músicas que apresentam abordagens fortes e extremamente românticas, um clichê que apareceu em várias produções musicais industriais latinas em diferentes eras. A primeira, para enfatizar o aspecto emotivo, incorpora instrumentação levemente mariachi nos metais e cordas sentimentais. A última tem uma atmosfera colorida, rica de sabores, característica de diversos estilos regionais como salsa, mambo e merengue — é a síntese dos melhores clichês do latin-pop.

Os momentos em que Karol G adota uma sonoridade mais casual no reggaeton são menos interessantes, mas ainda assim geralmente divertidos. Com a mistura de diferentes influências, este novo trabalho evita um problema que assombrava discos anteriores, como MAÑANA SERÁ BONITO: a dificuldade de sustentar um som cativante do início ao fim baseado em um único gênero. Além disso, percebe-se uma evolução na forma como ela explora os ritmos, construindo ganchos e melodias menos genéricas, que justamente por isso se tornam mais envolventes.

Dessa forma, Tropicoqueta é muito eficiente ao buscar ser uma exploração dos principais aspectos do pop latino de eras e contextos diferentes. Além de divertido, o álbum se afasta do espaço atual da música pop de língua hispânica por se esquivar da limitação na tendência contemporânea do reggaeton — e que foi onde Karol G se desenvolveu como artista —, criando um disco competente e refrescante para o espaço em que ela se situa.

Selo: Interscope
Formato: LP
Gênero: Música Latina/Hispanófona

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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