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Com uma proposta que, à primeira vista, pode soar repetitiva, o EP de Syredu se configura como um painel vibrante de referências: do funk dos anos 2000 ao experimentalismo digital, tudo ganha nova vida sob sua curadoria. Ao contrário de um “revival” simples, o produtor mergulha de cabeça na manipulação do som, desconstruindo e remontando samples dos lugares mais variáveis do seu repertório, costurando um funk firme no miami bass característico e, em seguida, transmutando-o em texturas eletrônicas surpreendentes – um jogo de camadas nostálgicas e futuristas que evita o pastiche fácil.
A faceta mais impressionante desse recorte musical reside na forma radical como Syredu esmiúça fragmentos sonoros: samples aparecem retorcidos, espelhados e distorcidos até perderem qualquer rastro de previsibilidade. Existe um cuidado obsessivo no encaixe desses pedaços – ora enigmáticos, ora explosivos – que serve a um propósito narrativo, ultrapassando a simples celebração de memórias afetivas.
No seu rico repertório, nuances de funk e seus subgêneros convivem com camadas densas de electro-pop pulsante e breves lampejos de hip hop, compondo um tecido heterogêneo em que cada elemento mantém autonomia sem se diluir, isso se demonstra no virtuosismo ao evitar a homogeneização: os ritmos colidem e se entrelaçam sem se ofuscar mutuamente, desdobrando-se em peças com identidade própria. O EP subverte convenções e projeta o funk em um território de imprevisões, tornando-se um laboratório sonoro onde o ouvinte – envolvido em tensão e fluidez – descobre-se coautor de uma experiência que ecoa muito além do último acorde.
Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Funk / Eletrônica