
Little Simz é uma artista que traz uma multitude de pontos para si, tanto em lírica quanto em estética e musicalidade. Em preparação para o lançamento de seu 18° projeto, Lotus, o Aquele Tuim selecionou 11 deles neste revisando discografias para discorrer sobre a rapper feminina mais exaltada de seu tempo, que possui um modelo de hip hop que visa incorporar e modificar a linha consciente dos anos 90. Quebrar com a linhagem britânica, com o arquétipo do rap masculino (e masculinista), buscar novas formas de tornar a ruptura cultural dos anos 90 presente na atualidade; tudo isso foi Simz quem fez. Leia abaixo o primeiro revisando discografias de hip hop do Aquele Tuim:

Blank Canvas
2013
★★★☆☆
Funciona mais como exercício. Ainda não é possível ver clareza no que tentava Little Simz na criação de uma artista, de uma identidade musical própria. Isso gera uma série de confusões estéticas que, mesmo sendo esquisitas, são, pelo menos, algo interessante de se escutar do começo ao fim.
A confusão maior é que, no fim das contas, é um álbum bem quadradão, algo que não esperamos quando damos play num álbum de cloud rap — o gênero principal de Black Canvas. Ainda sim, enquanto boom bap, funciona bem e quem gosta da artista vai se divertir procurando essas formas que hoje já são bem consolidadas dentro do estilo de rap dela.
Black Canvas, então, pode-se dizer, é um canvas mesmo, abrigando elementos mais estranhos, como a própria produção, que aposta num som mais lo-fi. Mas também muito interessado, principalmente instrumentalmente, em aspectos mais teóricos (tradicionais) e naturais de um hip hop consciente associado ao boom bap. - Tiago Araujo

E.D.G.E
2014
★★★★☆
No começo de sua carreira, existia uma característica muito marcante na Simz: a regionalidade. No hip hop, a identidade regional do autor é comumente tão importante quanto seu estilo, suas aparências ou o resto do que o define. Pouco se comenta sobre o britânico na música de Simz, mas E.D.G.E é o exemplo perfeito para delinear esse ponto; em contrapartida, é o mais contraditório. Isso se dá pela incorporação vívida do grime — gênero britânico em essência —, mas que é confrontada por duas principais questões: a total dissecação e reestruturação do grime e a perseguição do cloud rap — cuja regionalidade é a internet como um todo. O britânico é como um fantasma que Simz quer estrangular; ela o abstrai, fita sua mística aos olhos e a mata lentamente.
E.D.G.E é esse ódio moroso que salta entre contradições: uma lírica irônica, arrogante para com seus inimigos presente em um estilo tão definido pela algazarra e obviedade — cloud —, a agressividade da linhagem britânica do rap dissimulada por uma certa leveza nos “passos” de Simz — como na capa, ela flutua —, o ritmo da eletrônica britânica remodelado por um wonky ocasional e destruído por confissões semi-amorosas de exaustão existencial. Um projeto assim só poderia ser extraído de Simz no começo de sua carreira, quando ainda não tinha uma reputação a manter, quando não significava algo para ninguém; quando era apenas mais uma rapper britânica.
Essa amplitude de lados e abordagens é o que torna grande parte do trabalho de Simz encantador. Uma busca honesta e apaixonante por tudo aquilo que o sol alcança, um carinho pela arte do jogo, o brincar consigo e com os outros. Tudo isso é transparente em E.D.G.E, um álbum que exibe em primor tudo de valioso no trabalho da Simz pré-GREY Area, um que era muito mais sutil, tanto mais — baseado em observações e gostos — quanto menos — nada analógico, puramente artificial — orgânico. - Sophi

Age 101: Drop 1
2014
★★★☆☆
O primeiro dos Drops é um marco muito importante para Simz como uma amante das artes e do entretenimento. Embora às vezes pareça muito semelhante ao que E.D.G.E propôs, note que defino o EP como importante para a artista em si, como um apoio para seu ofício. Uma maior liberdade para experimentar — não confundir com música experimental — com o que quisesse sem apedrejar a construção de sua carreira foi grande parte do que incentivou Simz a continuar essa carreira, em primeiro lugar. Ouvir uma música de future bass com vocais da Simz é algo entre um sonho confuso e um mashup do SoundCloud.
Ao dizer que Simz não queria “apedrejar a construção de sua carreira”, erroneamente dei a impressão de ser uma decisão consciente; não é. A existência dos Drops em primeiro lugar denota algo muito curioso na forma como Simz trata sua carreira: incerteza. Para uma mulher que tanto escreve decididamente, com segurança, há um certo medo de expandir barreiras, de “contaminar” um “recorde perfeito”. Ao mesmo tempo, há uma necessidade de se afirmar como alguém capaz de ter muitas faces — o que, certamente, é a verdade para ela — e, então, ocasionalmente um Drop ou um single bobinho é lançado oficialmente.
É difícil determinar até que ponto isso é proposital, indica insegurança ou segurança, mas é a razão para a existência de metade dos projetos de sua discografia. Deve ser um misto disso tudo, e mais algumas coisas. No que tange os Drops, o primeiro um dos melhores, mas um dos que menos saem da linha do passado da artista. Talvez isso esteja relacionado com a dualidade da (in)segurança aqui demarcado, ou talvez por ser justamente o primeiro. Sobre os outros drops, veremos como esta noção se expande ao longo do tempo. - Sophi

A Curious Tale of Trials + Persons
2015
★★☆☆☆
Ainda sim, o disco não é de todo mal, possuindo algumas faixas-destaque como “The Lights” e “God Bless Mary”. Se existe algum valor para ser tirado dele é a vontade da Simz de construir algo com suas mãos. Talvez esse algo não seja música — produzir com paixão, dispor amor ao fazer musical —, mas ainda sim é uma garra que não deve ser ignorada. Ela realmente quer ir atrás de seus inimigos abstratos e isso devolve resultados engraçados; por um lado, é um ódio devorador de corações, do outro é a música menos inspirada que você vai ouvir em algum tempo.
Enfim, esse é o tipo de álbum que alguns chamam de “filler” na carreira de artistas. Pouco importa para a evolução artística da rapper, mas é o primeiro que recebeu alguma atenção da crítica, o primeiro em que o mundo conheceu Little Simz. Isso pode ter a inspirado a continuar, a focalizar melhor suas ideias e pode muito bem ter sido o estopim para o seu ápice de carreira com a trilogia GREY Area-SIMBI-NO THANK YOU. Ao menos que uma entrevista que pergunte isso seja feita, ficaremos ao escuro e, até lá, o valor de A Curious Tale of Trials + Persons apenas diminuirá. - Sophi

Age 101: Drop X
2015
★★★☆☆
O segundo Drop deste revisando discografias ser o quinto pode ser um pouco confuso, mas é bem simples: pouco pode ser dito sobre os outros que já não foi dito até agora. Talvez mais confuso ainda é o quinto Drop ser chamado Drop X, mas, ironicamente, é mais simples ainda: este é um momento de virada de chave para Simz. Após ter lançado seu disco de estreia em si — o resto dos projetos foram mixtapes e EPs —, a estratégia de sua persona mudou e, portanto, a aparência de seus projetos precisou ser repaginada. É o décimo projeto, o fim do ciclo. Enquanto em A Curious Tale… Simz rasgava sobre o que aparecia em sua mente sem muita consideração, exibindo uma garra amedrontadora em destruir tudo que a opunha, em Drop X o futuro da carreira da rapper começou a se caracterizar pelo cuidado.
Drop X usa uma versão do grime muito suave, muito embelezada, polida. Quase irreconhecível, ele serve de fio de condução para um projeto muito diferente do que Simz normalmente aborda. Em lírica, a rapper sempre foi tradicional no que se diz respeito à construção de seu fazer poético, mas ao tender ao R&B dentro da eletrônica e a um uso quase soul do cloud, a maior parte desse caráter tradicional simplesmente some. É o começo de uma criação de um rap feminino, um que não precisa dos signos do rap (extremamente agressivo) dos homens (em especial, britânicos). Porém, como dito, é o começo; a distinção neste projeto não é tão forte, e se demonstraria mais presente e desenvolvida nos projetos produzidos pelo Inflo.
É essa força para criar algo novo que faz Drop X merecer aplausos, especialmente por ser tão difícil encontrar rappers que se encaixam numa tradição mais séria e que buscam novas formas de fazer sua música. Mesmo que seja mais a introdução de uma jornada que ela em si, há algo único no melodismo e na comum ausência de instrumentos reais que torna essa entrada no catálogo da Simz algo extremamente único. Atmosférico, sedoso, curioso; um dos Drops mais interessantes, se não o mais. - Sophi

Stillness in Wonderland
2016
★★★☆☆
Quando Simz decidiu se dedicar aos trabalhos de um segundo disco completo, já conhecíamos a rapper como uma artista notavelmente prolífica. Em "Stillness In Wonderland" vemos uma imersão conceitual ambiciosa, utilizando a clássica narrativa de "Alice no País das Maravilhas" como uma metáfora para a jornada interior de Simz, suas percepções sobre o mundo do entretenimento e do show business, e a criação de seu próprio universo musical. Essa promissora premissa visava guiar o ouvinte através de um labirinto de pensamentos e sensações da artista.
Musicalmente, "Stillness In Wonderland" é firmemente enraizado no hip hop, mas se beneficia de uma paleta sonora expandida, incorporando elementos de R&B sensual, soul e até a malícia de M.I.A. A produção do álbum é frequentemente elogiada por sua beleza e atmosfera, criando paisagens sonoras mutáveis que acompanham o tom introspectivo. No entanto, a força do conceito de Alice, que deveria ser um fio condutor, por vezes se torna um entrave. As referências podem soar amorfas ou até forçadas em certos momentos, e a tentativa de conciliar um conto de fadas com temas sérios e introspecção profunda nem sempre resulta em coesão perfeita, fazendo com que o álbum, apesar de seu charme, soe por vezes fragmentado, como uma mixtape com ideias demais para o espaço disponível.
Apesar dos desafios conceituais, os momentos de colaboração oferecem um bem-vindo respiro e demonstram a versatilidade de Simz. Faixas como "Poison Ivy", um dueto com Tilla, "Shotgun", com a participação de Syd, e "Bad to the Bone", com a presença de Bibi Bourelly, destacam-se por seu polimento e ganchos mais acessíveis, muitas vezes se distanciando das referências mais explícitas de Alice e permitindo que as personalidades dos convidados brilhem. Esses pontos altos sublinham o potencial da artista, mesmo que o álbum como um todo ainda busque sua plena identidade dentro de um conceito que, embora cativante, não foi totalmente concretizado em uma obra coesa. - Eduardo Ferreira

GREY Area
2019
★★★★☆
Mesmo que estivesse vivendo em uma Zona Cinzenta entre se tornar adulta e lidar com a fama, GREY Area é talvez o álbum mais claro da Little Simz até o momento; é o seu primeiro disco em que o excesso de ideias não ofusca sua execução. Simz está mais do que com uma caneta afiada; está com uma mente afiada. Ela consegue explorar diferentes tangentes das ideias, mas sempre retorna para o foco central do álbum sem se perder e sem causar nenhum estranhamento para o ouvinte.
Ainda que seja um álbum mais fechado em si, GREY Area está longe de ser monótono; de instrumentos tocados ao vivo até um boom bap mais sujo ou um grime regionalizado, o álbum não se prende em uma sonoridade ou temática só. Simbi é capaz, inclusive, de subverter diversos dos temas elaborados, mostrando, vividamente, a zona cinzenta em que ela estava vivendo — um dos grandes trunfos do projeto. Enquanto num momento ela se situa no topo do mundo, afirmando seu lugar no rap, em outro ela mostra o peso de estar constantemente em turnê ou processando o assassinato de um amigo.
GREY Area rendeu também o que é hoje a maior música da sua carreira, “Venom”, que, com exceção do sucesso massivo no TikTok, não parece agregar muito no projeto. É sim uma música absurdamente energética cujo sucesso faz total sentido, principalmente no contexto de redes sociais que vivemos, mas que perece quando colocada lado a lado a músicas como “Offence” ou “101 FM”. Ainda vale destacar, porém, que é impressionante como um dos erros desse álbum segue sendo uma música executada em altíssimo nível, seja em escrita ou produção. - Na Pauta

Drop 6
2020
★★★☆☆
Simz abre o terceiro Drop deste revisando — que dá continuidade ao Drop X e é intitulado Drop 6 — de forma agressiva, chutando a porta da festa, mesmo sem ter sido convidada. Se em Drop X há uma construção mais cuidadosa e sentimental sobre sua carreira, na sequência ela entende quem é e como chegou onde está, se intitulando de “o exército de uma mulher só”, sem, no entanto, deixar os assuntos introspectivos de lado. Em apenas 13 minutos de projeto, Simz transita pelos próprios pensamentos de maneiras distintas. Se na primeira faixa, “Might Band, Might Not”, assume uma postura mais hostil, na segunda, “One Life, Might Live It”, surge numa perspectiva ainda na defensiva, mas muito mais introspectiva.
O grave do baixo que conduz a faixa reflete exatamente o caminho que a música percorre — desde a tonalidade da voz até a forma como as palavras são quase faladas. “You Should Call Mum” sintetiza o momento que a rapper estava vivendo — pandemia da Covid-19 em 2020 —, tanto em sua carreira quanto na vida pessoal. São pensamentos recorrentes de uma mente que se manteve isolada e que, inevitavelmente, se refletem em sua música. Os dias se tornavam iguais. Ela perdia completamente a noção do tempo e espaço, enclausurando o ouvinte dentro de suas músicas. “Where’s My Lighter” encerra o projeto de forma oposta à maneira como começou. Há um apelo profundo às questões internas que a artista enfrenta e, a partir disso, surgem mais questionamentos. Dizer que estava no fundo do poço e admitir que talvez não aceitasse nem mesmo a ajuda de Deus pode soar impactante, mas faz sentido quando ela confessa: “Estou fudendo as pessoas que se importam, rejeitando ajuda, na defensiva.”
É o sentimento de solidão, não por estar fisicamente sozinha na época, mas por não saber em quem confiar, por questionar se existe amor verdadeiro e se ela teria alguém para recorrer. No fundo, ela se entende como centrada apenas em si mesma, sempre em busca de um sentido, tanto como artista quanto como pessoa; buscando seu verdadeiro “eu". Drop 6 segue a linha dos outros drops: não tem um conceito fixo, mas carrega um caráter espontâneo, que reflete exatamente o que a rapper britânica vive e pensa naquele momento. Neste projeto, não há uma busca por uma assinatura sonora nem uma experimentação musical mais ampla. O EP funciona como um bilhete curto, cru, que narra seus pensamentos durante um período delicado para uma pessoa poética, que precisa das vivências para transformar em palavra. Ainda assim, ela mesma admite que nunca erra quando coloca a caneta no papel. “Simbi nunca fica sem munição.”, como diz em “Damn Right”. - Talita Mutti

Sometimes I Might Be Introvert
2021
★★★★☆
Em Sometimes I Might Be Introvert, a primeira coisa que chama atenção é como tudo soa preciso sem ser pesado. Os baixos são discretos, mas têm peso. Como se estivessem ali para guiar sem roubar espaço. As batidas são limpas, relaxadas, e deixam as rimas respirarem. Tem uma fluidez que parece calculada, mas nunca engessada. A produção cria um ambiente que oscila entre o íntimo e o épico, e isso dá um ar meio cinematográfico, mas sempre muito humano.
As letras mergulham fundo em questões pessoais, mas sempre em diálogo com o mundo. Simz fala de família, fama, solidão, com um lirismo que nunca escorrega pro clichê. Há uma tensão constante entre ser forte e estar vulnerável, entre querer falar tudo e querer se esconder. Ela volta várias vezes nessa luta entre o que é esperado dela e o que ela realmente sente. Em vários momentos, parece que ela tenta entender como continuar sendo ela mesma sem se perder nas expectativas dos outros.
O álbum também acerta muito quando fala de amor, não aquele idealizado, mas o real, cheio de falhas, silêncio, memória e esforço. Tem uma busca por algo que acolha, que permita errar, que cure sem apagar o que foi vivido. Ao mesmo tempo, há uma vontade de perdão, mas não como gesto nobre, e sim como necessidade de seguir em frente. É um disco que conversa com a ideia de sucesso, mas sem glamour: mostra o peso, o cansaço, as cobranças. No fim, o que sobra é a tentativa de se manter inteira, mesmo quando tudo em volta pede o contrário. - Brinatti
As letras mergulham fundo em questões pessoais, mas sempre em diálogo com o mundo. Simz fala de família, fama, solidão, com um lirismo que nunca escorrega pro clichê. Há uma tensão constante entre ser forte e estar vulnerável, entre querer falar tudo e querer se esconder. Ela volta várias vezes nessa luta entre o que é esperado dela e o que ela realmente sente. Em vários momentos, parece que ela tenta entender como continuar sendo ela mesma sem se perder nas expectativas dos outros.
O álbum também acerta muito quando fala de amor, não aquele idealizado, mas o real, cheio de falhas, silêncio, memória e esforço. Tem uma busca por algo que acolha, que permita errar, que cure sem apagar o que foi vivido. Ao mesmo tempo, há uma vontade de perdão, mas não como gesto nobre, e sim como necessidade de seguir em frente. É um disco que conversa com a ideia de sucesso, mas sem glamour: mostra o peso, o cansaço, as cobranças. No fim, o que sobra é a tentativa de se manter inteira, mesmo quando tudo em volta pede o contrário. - Brinatti

NO THANK YOU
2022
★★★☆☆
Musicalmente, a parceria com Inflo ganha contornos de resistência. A produção evita os arranjos épicos do trabalho anterior, optando por uma estética que mescla minimalismo e densidade emocional: cordas precisas criam tensão, batidas contidas amplificam a urgência das letras, e os vocais etéreos de Cleo Sol funcionam como faróis de esperança em meio ao caos. Essa escolha não é acidental; a simplicidade dos instrumentais contrasta com a complexidade das críticas de Simz, como se a música dissesse: a verdade não precisa de adornos. Enquanto Sometimes I Might Be Introvert usava orquestrações para dramatizar conflitos internos, aqui a austeridade sonora revela uma artista que já não precisa provar nada — apenas confrontar.
O cerne do álbum, porém, está na lapidação brutal de cada verso. Simz não constrói metáforas; ela esculpe verdades. Seu flow, ao mesmo tempo técnico e visceral, transforma indignação em arte sem perder a clareza. A raiva não é descontrole, mas ferramenta: cada rima expõe a hipocrisia de contratos, a farsa das "oportunidades" e o custo humano por trás dos prêmios. Se Sometimes I Might Be Introvert questionava sua dualidade, NO THANK YOU é a resposta definitiva: Simz não precisa escolher entre pessoa e artista, pois sua genialidade reside justamente em fundir ambos. O álbum não é um capítulo novo, mas um epílogo necessário — o momento em que ela queima o roteiro que tentaram impor e, nas cinzas, reencontra sua voz. - Antonio Rivers

Drop 7
2024
★★★☆☆
A série de EPs Drop de Simz sempre funcionou como um laboratório público, no qual a artista além de se sentir profundamente livre para testar, consegue construir um diálogo bastante direto com quem a ouve. Drop 7 é o primeiro resultado desse laboratório após suas duas grandes obras-primas, ou seja, os olhos do mundo estavam voltados para Simz, que, com bastante clareza, sempre aponta para onde quer ir.
Em Drop 7 Little Simz já está consolidada, tem na conta um dos melhores álbuns da década até agora, tem visibilidade mundial e um hit global no TikTok. No entanto, não se intimida ou se sente saciada, ao contrário, usa seu marcador internacional para pensar os estilos característicos da sua produção — marcados pelas sonoridades negras sejam no rap, na sua aproximação com a música digitalmente produzida ou no jazz ao redor do mundo. Drop 7 nesse sentido é um EP que só poderia ter sido feito por uma artista com fome de descoberta, que entende exatamente quem ela é e por isso busca as raízes de sua cultura em outros países através de uma perspectiva diaspórica.
É esse elemento — a diáspora do povo negro — que amarra o projeto, que tem desde a simplicidade do trap de “I Ain’t Feelin’ It” até músicas com sua origem marcada pela comunidade negra britânica como o drum’n’bass de “Power” ou ainda o UK funky de “Mood Swings”. A rapper, inclusive, passa por sonoridades transatlânticas em “Fever”, com versos cantados em um português indisfarçável sobre um beat de funk, passeando também pelo maracatu swingado de “SOS” e o jersey club de Far Away. - Na Pauta
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