
4/5
Em Laini Tani, Nadah El Shazly cria uma atmosfera que é capaz de nos fazer sentir imersos em um ritual cerimonial clássico egípcio, porém, localizado em sua própria Cairo futurista. A voz da cantora, produtora, musicista e atriz, se torna, aqui, um instrumento flexível, que se une aos instrumentais de seu piano e da harpa de Sarah Pagé, companheira de longa data, acompanhados de um uso extenso de sintetizadores e percussões eletrônicas. O sentimento é de uma fricção, que atravessa o projeto como se estivéssemos ouvindo memórias e futuros ao mesmo tempo.
Quase como em uma narrativa cinematográfica, cada momento de calma é um prenúncio sutil de uma tempestade. Nadah é a orquestradora desse universo onde tensões se acumulam e se resolvem em texturas e ritmos, conduzindo o ouvinte por caminhos inesperados.
A primeira faixa, “Elnadaha”, nos acorda de forma hipnótica: camadas vocais ecoam, enquanto Pagé constrói a ambientação como um suspiro chamando ao fundo. Já “Kaabi Aali” produz uma mudança rápida, com beats marcados e acelerados, nos conduzindo para um cenário onde Cairo pode ser encontrada ‘revestida por luz neon verde’, como diz a produtora. Nada aqui é estático, cada faixa muda o eixo da escuta, indo do industrial, ao trip-hop e o dream-pop, sem perder em nenhum momento a conexão com o clássico egípcio.
El Shazly costura todo esse movimento, principalmente através da sua voz. Ela aparece em muitas formas: cantando, sussurrando, distorcida com autotune ou apenas como um som de fundo. Mas quando ela se ausenta, como em “Enti Fi Neama”, não entramos em um momento ‘anti-diegético’, pois a narrativa continua como se a voz de Nadah fosse consumida pelo excesso que a cerca.
O mais interessante em Laini Tani talvez seja por não se tratar de uma tentativa de “fusão” entre Oriente e Ocidente, entre acústico e eletrônico, mas de um questionamento constante dessas fronteiras. É um álbum que consegue soar pessoal e íntimo (tratando sobre perda, amor e recomeços), mas que não relega a responsabilidade pela construção narrativa para a composição lírica, entendendo a potência de cada escolha sonora.
Selo: One Little Independent Records
Formato: LP
Gênero: Experimental / Pop, Eletrônica