Crítica | “samsara/plano sequência”


Para um conjunto que explora os territórios favelados do Rio de Janeiro, “samsara/plano sequência” é surpreendentemente sem chão, não no sentido de pairar, flutuar no ar, mas por abrir-se sob nossos pés assim que a ruma de baterias instrumentais surge na introdução, enquanto antigo declara, de forma cortante e direta (como em toda a faixa), do que se trata o que estamos ouvindo. A força com que o artista – projeto musical de Murilo Marques, músico e artista visual de São Gonçalo, Morro da Dita – descreve o espaço em que está inserido é aterradora. Sua noção de localidade, embebida em um processo narrativo que flerta com a crônica e expõe os dilemas do cotidiano sob a perspectiva de um homem negro atravessado por uma realidade racista, se imprime por entre camadas que se chocam a partir da densa justaposição de sons, timbres e ambiências, fruto dos instrumentais assinados por DJ Guaraná Jesus. Em determinado momento, toda essa miscelânea converge num só ponto. Com os versos cada vez mais acelerados, num crescendo rítmico e emocional, antigo faz suas declarações mais concretas:

Pra quem veio de onde eu vim todo julgamento é semelhante / Toda sentença é de morte.


Compre: Bandcamp
Selo: Independente
Formato: Single
Gênero: Hip Hop / Experimental

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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