Crítica | Sedonis


★★★★☆
4/5

Um dos grandes exemplos do impacto de Merzbow na música experimental é ter feito com que uma geração inteira aprendesse como mexer em softwares e tecer qualquer ruído — alguns com ideias bem legais no que se refere a própria destruição do som — achando que estariam, assim, se aproximando de algo que ele faria. Mas se há uma razão para esse ruído, aqui, funcionar, mesmo que sem muita variação para quem vem de fora, é que quem está o fazendo é Merzbow.

É quase incontável — e impossível — de se localizar na extensa quantidade de lançamentos que a discografia dele tem. Vez ou outra, porém, surge um trabalho mais destinado a reunir suas ideias do momento de modo a ele querer nos fazer ouvir, chamar nossa atenção com um: “olha, esse disco aqui é imperdível”. E este é o caso de Sedonis, que marca uma nova entrada de Masami Akita em campos semi-inexplorados, mesmo que contenha tudo de bom que ele já fez.

Aqui, há a estrutura de computador, eletrônica modular e instrumentais tidos como artesanais que ele já havia trabalhado anteriormente. E essa talvez seja a grande diferença, pois se tem outra coisa que diferencia e evita com que o trabalho de Merzbow caia em classificações fácies, é que o modo de fazer, a composição desses sons nomeados até mesmo como “antimúsica”, é que partem de meios de se criar música que, formalmente, podem ser usados em qualquer estúdio por aí. Há, sim, elementos criativos feitos unicamente dele para ele, mas as baterias eletrônicas guiadas por ondas propulsoras e as impressões estridentes de cordas de guitarra caseiro, tocado com proximidade de um arco de violino em “Sedonis A”, provam que a artimanha mais interessante do projeto está na naturalidade com que esse som horrendo – no melhor dos sentidos – é criado.

São técnicas verdadeiramente bem manuseadas e que geram parte das características únicas que definem a música de Masami Akita. Há um trabalho com cordas, por exemplo, que nitidamente se tencionam para criar uma atmosfera sombria mas musicalmente estável, e parte desse acerto está no aceno – ou reconstrução – de ideias que, em certos momentos, se estreitam para o jazz. É uma variedade de som, linguagem e estética que definitivamente o coloca no epicentro de tudo e, ao mesmo tempo, do nada. Pois é isso, um som sem objeções maiores do que apontar para seu ego, sua personalidade artística e criativa, e demonstrar o quão habilidoso ele é fazendo isso que sempre fez.

Selo: Signal Noise
Formato: LP
Gênero: Experimental / Noise

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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