Crítica | Waterfall Horizon


★★★☆☆
3/5

Em Waterfall Horizon, Neo Gibson dá continuidade à sua investigação sobre como a emoção pode ser mediada, distorcida e, ainda assim, preservada dentro de estruturas eletrônicas. Lançado sob o nome 7038634357, o álbum parte de um vocabulário musical bastante restrito, mas que é explorado com atenção aos detalhes. A voz, em sua maioria acompanhada do AutoTune, ocupa um lugar central como ponto de ancoragem, sendo aquilo que permanece enquanto os arranjos orbitam ao redor.

As faixas foram concebidas ao longo de sua turnê em 2022 e essa origem está impressa na forma como cada música se estrutura. Há uma lógica de espaço e escuta que faz sentido em apresentações ao vivo. As composições parecem feitas para se expandir aos poucos, preenchendo o ambiente com lentidão. Muitas vezes, as letras demoram a se afirmar, surgem quase como murmúrios que vão sendo repetidos até criarem presença.

A ambientação do álbum gira em torno de poucos elementos: sintetizadores, samples, ruídos digitais e pequenos fragmentos melódicos se repetem em diferentes variações. Esse minimalismo cria coesão e uma sensação de continuidade que procura te envolver numa atmosfera específica, cada vez mais profunda. A repetição aqui funciona como forma de sedimentar sensações, como se as músicas quisessem fixar um estado emocional específico e prolongá-lo ao máximo. “Seventeen Nights”, por exemplo, constrói-se em cima de algumas notas, que se repetem por toda a faixa, enquanto os samples acompanham uma visão de ruínas. Em “Eye Contact”, single do álbum, as letras são ambíguas e repetidas até criarem novos sentidos, como em:

The night is shining is like a broken glass / The night is like an open door (A noite brilha como um vidro quebrado / A noite é como uma porta aberta).


As duas faixas instrumentais, “Final Lap” e “Eraser II”, interrompem o ciclo lírico do álbum sem quebrar sua lógica interna. Funcionam como pontos de suspensão, nos quais o uso da palavra parece ter se esgotado e apenas o som é capaz de sustentar o que ainda resta dizer. São momentos nos quais o sintetizador deixa de servir como pano de fundo e assume o protagonismo. A mudança de foco não é brusca, mas produz uma pausa que amplia o horizonte do disco.

A reconstrução dessa fórmula ao longo do projeto, que é uma das estratégias mais marcantes de Waterfall Horizon, também pode servir como limitador de seu impacto. Algumas faixas parecem funcionar muito bem quando isoladas, nessa nova vertente pop da produção, lembrando projetos de More Eaze, OPN e o mais recente álbum de Organ Tapes, por exemplo. Há uma beleza clara na contenção e no rigor, mas é difícil não desejar um pouco mais de risco ou ruptura no todo. Ainda assim, Gibson demonstra domínio do próprio idioma musical e constrói um disco que, mesmo contido, carrega uma assinatura clara. A experiência pode oscilar entre imersiva e exaustiva, e talvez seja essa tensão que define o que o álbum tem de mais interessante.

Selo: Blank Forms Editions
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Experimental, Noise, Ambiente
Leonardo Zago

Formado em Comunicação Social com ênfase em Midialogia, 27 anos. Amante de cinema e música. No Aquele Tuim, integro a curadoria de música Eletrônica e Experimental.

Postagem Anterior Próxima Postagem