Crítica | Festival Turá 2025


★★★★☆

Como o nome já deixa no ar, o Festival Turá é um retrato da “misTura”, de ritmos, de gerações e de vivências. Criado em 2022, o evento já se consolidou como uma vitrine da diversidade musical brasileira. Em sua 4ª edição, realizada nos dias 28 e 29 de junho no Parque Ibirapuera, o Turá reuniu grandes nomes da música, em dois dias recheados de energia e brasilidade.

Com dois palcos — o Palco Sol e o Palco BB —, o festival ofereceu uma programação dinâmica, sem sobreposição de shows, o que permitiu ao público aproveitar cada apresentação por inteiro. A estrutura foi montada nas imediações do Obelisco, próximo ao Portão 10 do parque. Logo na entrada, um grande letreiro com a palavra “Turá” recebia o público, cercado por redes e puffs que convidavam ao descanso, quando necessário. A área de alimentação, ampla e bem equipada, contava com muitas opções e food trucks variados (valor não tão acessível mas padrão de eventos), mesas, bancos e bares abastecidos pelas marcas patrocinadoras, como Sol e Schweppes.






Entre os estandes das marcas, o destaque ficou para os espaços instagramáveis e as tradicionais fotos em polaroid, oferecidas por marcas como Chevrolet, Adidas e a Rádio Metropolitana FM — embora, vale dizer, as filas extensas em alguns deles, como o da própria Adidas, não compensassem tanto a espera. Os banheiros, bem distribuídos ao redor dos palcos, estavam em bom estado geral, com estrutura completa (até espelhos) e limpeza adequada, apesar de alguns percalços com portas e filas no segundo dia.

O som, em geral, funcionou bem, com exceção de momentos pontuais — como no show do Samuel Rosa, onde a qualidade do áudio deixou a desejar na área próxima à grade. Telões grandes de ambos os lados garantiam boa visibilidade até para quem estava mais distante, só notei uma falha no início do show do Seu Jorge, e a acessibilidade foi contemplada com tradução em Libras. A distribuição gratuita de água para o público da grade também foi um ponto alto, principalmente em um fim de semana de céu azul e calor intenso. Além do ponto de hidratação disposto no meio do evento, com copos biodegradáveis e sensores para evitar o desperdício de água.

O line-up foi um dos trunfos da edição: Bonde do Tigrão, Lenine, Seu Jorge, Só Pra Contrariar, Gabriel o Pensador, Samuel Rosa, Saulo, Raça Negra, Glória Groove, entre tantos outros. A curadoria apostou forte na nostalgia, com a presença marcante do pagode dos anos 90, mas também abriu espaço para a inovação e os encontros inesperados.

No sábado, mesmo não conseguindo assistir ao Bonde do Tigrão, cheguei a tempo de me encantar com a força cênica e musical do Forró das Minas, em apresentações vibrantes no Palco Sol. O festival foi pontual: enquanto um show terminava, o outro já começava — sem respiros, mas com muita fluidez e qualidade na entrega.

Um dos momentos mais emocionantes foi o show do Pretinho da Serrinha, trazendo um repertório que ia de Ivone Lara a Jorge Aragão. Convidou Criolo para reinterpretar alguns sucessos e ainda trouxe ao palco a rainha Leci Brandão. A artista se emocionou visivelmente com a recepção do público jovial e diverso. Em seguida, Lenine e a Spok Frevo Orquestra protagonizaram um espetáculo arrebatador, exaltando as raízes pernambucanas com excelência.

Seu Jorge, por sua vez, entregou um show impecável (e diga-se o mais aguardado da noite), misturando faixas do novo álbum Baile à La Baiana com grandes clássicos da carreira. O ponto alto foi sua parceria com Patrícia Marx na canção “Espelhos D’Água”, um grande sucesso dos anos 90, regravado por ela e Seu Jorge em 2013. O cantor também finalizou o setlist homenageando todos os trabalhadores do evento com uma das canções mais bonitas de sua carreira "É Isso Aí".






DJ Trepanado e DJ Luísa Viscardi animaram os intervalos com muita brasilidade e remixes.

Para fechar o sábado com chave de ouro, o SPC apresentou seu show "O Último Encontro 2", celebrando 35 anos de carreira com hits como “Essa Tal Liberdade”, “A Barata” e “Que Se Chama Amor”. Alexandre Pires mostrou todo seu carisma e elegância, em um espetáculo clássico, com trocas de figurinos e cenografias nostálgicas.

No domingo, não assisti o show do Gabriel, O Pensador, mas pude acompanhar logo após o Samba de Dandara, um coletivo feminino poderoso, que mostrou toda a força das mulheres no samba. O público, ainda maior que no sábado, já demonstrava estar ansioso por Glória Groove, atração de encerramento do dia.

Samuel Rosa entregou um dos shows mais vibrantes da edição, com muita animação e carisma reunindo faixas do seu disco solo Rosa (2024) e sucessos eternos do Skank como "Canção Noturna", "Ainda Gosto Dela" e "Dois Rios".

Saulo trouxe seu axé contagiante, com participação do mestre Luiz Caldas, criando um momento único de festa e celebração, que embalou o público e não deixou ninguém parado. A DJ Linda Green comandou o intervalo com uma seleção moderna e dançante de músicas brasileiras — destaque para “Banho de Folhas”, “À Francesa” e “Acende o Farol” que colocaram o público para cantar e dançar com muito entusiasmo.






E então veio ele: Raça Negra. Pela “quinquagésima vez” na minha vida (sem exagero), assisti a um show da banda que nunca perde o encanto. “Estou Mal”, “Cigana” e “É Tarde Demais” ecoaram em coro, embalando gerações ali presentes com romantismo e emoção.

Apesar de não assistir ao show de Glória Groove, a expectativa era evidente. O segundo dia teve um público mais volumoso e vibrante, consolidando a potência da artista como um dos grandes nomes do pop nacional.

Como primeira edição que acompanhei ao vivo, saio com uma ótima impressão. A experiência do festival foi muito positiva, ainda que com pontos que podem ser aprimorados: a distância do palco poderia ser menor para gerar maior proximidade entre público e artista, e os estandes das marcas poderiam oferecer ativações mais criativas e rápidas.

No fim, o Festival Turá promoveu encontros, misturou referências e celebrou a riqueza da música brasileira em todas as suas formas. E se depender dessa edição, minha presença na próxima já está mais do que confirmada.

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

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