
2/5
Meu primeiro ponto com Landscape From Memory é que Ryan Lee West, o nome por trás de Rival Consoles, parece um grande entendedor da técnica por trás da produção. Não dá pra negar que há faixas em que a mixagem, a programação da bateria ou a textura dos sintetizadores impressionam. Para quem valoriza o trabalho meticuloso e planejado, o projeto é um prato cheio.
Nascido após um período de bloqueio criativo, Landscape From Memory é o resultado de um mergulho em ideias antigas, esboços esquecidos que West decide revisitar e dar nova forma. A assinatura dele está por toda parte: sintetizadores que constroem pequenas narrativas, com camadas se acumulando, tentando emergir para algo maior. Mas o que deveria soar cinematográfico, no fim, soa mais como trilha de uma cena que nunca acontece. Apesar da experiência dele como compositor, inclusive para Black Mirror, o disco carece da densidade emocional que parece prometer.
A maioria das faixas se apoia numa mesma estrutura, que se estende por quase uma hora e só surpreende quando a técnica ultrapassa a previsibilidade. “Known Shape” é um exemplo claro, com uma percussão quase lúdica, lembrando Flying Lotus em versão ping-pong. Mas até aqui, o beat parece se esconder atrás dos sintetizadores, como se West hesitasse em deixá-lo guiar a música.
Não significa que o álbum não tenha seus momentos. A sequência que vai de “Soft Gradient Beckons” a “Coda” é com certeza o ponto alto do projeto. A primeira faixa, apesar de seguir a narrativa de sempre (sintetizadores de fundo vão crescendo até se juntarem ao beat de forma progressiva para morrer num fade), a textura aqui se torna um elemento fundamental e consegue trazer um estranhamento que te tira da monotonia. “Gaivotas”, por sua vez, ganha muito numa mixagem que cria uma espécie de batalha entre os sintetizadores, que vão se acumulando e destrinchando, enquanto “Coda” finalmente dá protagonismo à percussão, num dos raros trechos em que o ritmo não parece um adereço.
É um disco de beleza controlada, pensado nos mínimos detalhes, mas que pouco se permite arriscar. A impressão que fica é a de um produtor preso entre o conforto do domínio técnico e a dificuldade de encontrar algo que realmente precise ser dito. O resultado soa mais como uma exposição de esboços do que uma obra com vida própria. São paisagens que, embora bem desenhadas, parecem existir apenas na memória de quem as criou.
Selo: Erased Tapes
Formato: LP
Gênero: Eletrônica