★★★☆☆
3/5
A influência do country pop foi um aspecto crescente na discografia de Sabrina Carpenter, especificamente a cena dos anos 70 do urban cowboy, marcado por um som que se encontrava com o estilo de música pop vigente em Los Angeles, com maior alcance nos centros urbanos, em contrapartida com o country mais predominante nas áreas rurais, em uma mistura com o soft rock e a música disco. Parecia ser uma escolha interessante, já que faixas como “Please Please Please”, de Short N’ Sweet, incorporavam bem a sensibilidades dessa era. Ademais, as faixas da versão deluxe do álbum faziam uma aproximação ainda maior com o soft rock e o urban cowboy, o que trazia um repertório muito mais interessante e bem utilizado em músicas como “15 Minutes” e “Busy Woman”. Sob esse prisma, Man's Best Friend, como um disco ainda mais enraizado no country pop que a reedição de seu disco do ano passado, mostrava forte potencial.
Curiosamente, entretanto, se aprofundando muito nessas referências dos anos 70 do country, Sabrina acaba perdendo sua identidade, diferentemente das faixas destacadas, que eram boas releituras de elementos-chave da produção de música pop daquela época em um contexto que dialogava muito bem com a sua personalidade descontraída e bem-humorada. Faixas como “My Man On Willpower”, “Manchild” e “We Almost Broke Last Night” cumprem o seu objetivo, mas são resgates do urban cowboy que não trazem nada de muito interessante além da sonoridade ser realmente fiel aos anos 70, principalmente em “My Man On Willpower” e “We Almost Broke Last Night”, que são extremamente próximas ao que Dolly Parton fez em Heartbreaker e em 9 to 5 and Odd Jobs. Seriam excelentes se Sabrina conseguisse manifestar seu carisma nessas faixas, que acabam, carentes de personalidade, soando como meros pastiches do trabalho de Dolly Parton.
Apesar disso, é um registro mais consistente que seu anterior, Short n’ Sweet. O disco se sustenta em canções inspiradas no country pop setentista com um tom leve, que são pouco animadoras, mas competentes. É melhor que o álbum de 2024 por apostar em uma proposta musical mais interessante e que, mesmo com o resultado morno, se torna mais interessante de ouvir que as tentativas de caminhar para um espaço do pop alternativo de maneira muito superficial do Short n’ Sweet (“Sharpest Tool” e “Lie To Girls”).
É curioso, no entanto, como os melhores momentos na verdade acabam sendo faixas que se afastam da influência do country, mas se apoiam em outras perspectivas retrô que funcionam muito bem no disco e dão uma variação. “Tears” é uma faixa disco com uma instrumentação lustrosa carregada de pianos e orquestra que dão um tom soul/R&B, muito similar ao estilo do boogie, com fortes sensibilidades desses gêneros. A entrega da artista com um sussurado traz uma sensação fortemente sensual à música. “When Did You Get Hot” é enraizada no R&B contemporâneo dos anos 90, com grooves lentos com uma aura misteriosa reminiscentes do trip hop, gênero que frequentemente se encontrava com o R&B no período.
“House Tour” incorpora caixas fortes e um ritmo envolvente presente em gêneros como synth funk e new jack swing com guitarras, baixos e sintetizadores descontraídos. Acredito que essas músicas funcionam, em especial, por dialogarem melhor com a identidade artística de Sabrina Carpenter, manifestando forte sensualidade e uma energia despreocupada que perpassa o âmbito lírico, enquanto as músicas country tinham dificuldade em conectar esse aspecto na sonoridade. É por isso que Man's Best Friend se mostra como um disco simpático, com uma ideia bem intencionada mas que sua realização fica no campo do mediano. É uma proposta que tinha potencial, mas as músicas que se aproximam do country pop variam entre simplesmente chatas e algumas boas, mas que fazem no máximo o básico bem feito.
Selo: Island
Formato: LP
Gênero: Pop