Crítica | Don't Click Play


★★☆☆☆
2/5

Diamonds & Dancefloors funcionava pois Ava Max tinha uma visão bem intencionada em trabalhar com as suas características, que antes eram vistas como qualidades negativas, e fazer o que ela sabia de melhor: música pop genérica, mas que sabe de sua trivialidade e se preocupa na boa construção de melodias e ganchos e uma produção dance-pop de bom gosto. Dessa forma, o disco se mostrava como uma coleção muito boa de músicas pop centradas nas pistas de dança, com melodias animadoras e produções que trabalhavam com estilos eletrônicos e dance que construíam a sua incessante atmosfera dançante.

Don't Click Play pega a sonoridade que ela mais se aprofundou no seu disco anterior. Aqui as referências ao dance-pop oitentista se mostram ainda mais fortes, principalmente por mergulhar quase que em sua totalidade no synthpop, enquanto Diamonds & Dancefloors trabalhava isso junto à estilos diversos de house. O que poderia ser um direcionamento artístico acertado, por explorar o que havia funcionado para a artista no passado, se torna insuficiente, pois ela trabalha com esse som de maneira muito menos criativa que seu álbum de 2023. É até estranho considerar alguma coisa de Ava Max criativa se tratando de uma artista que sempre teve o estereótipo de cantora pop genérica, mas quando se escuta o seu registro anterior e, então, compara com o que temos aqui, nota-se que enquanto a composição e a produção musical tinha a habilidade de criar melodias refrescantes e trabalhar com escolhas que não eram absolutamente superficiais e contavam com um senso de bom gosto maior, existem aqui faixas com uma falta de criatividade melódica abismal e as produções raramente saem da superficialidade.

É um disco quase aceitável, mas que fica estagnado nesse ponto. Se por um lado isso indica que seus aspectos musicais rasos resultam apenas em músicas pop extremamente fúteis, mas que não chegam a ser ofensivamente ruins, quando o disco alcança algum tipo de qualidade cativante, ele não se desenvolve para algo acima da média, permanecendo no superficial. Os destaques ficam com “Sucks To Be My Ex”, que tem uma das produções e construções musicais mais divertidas do registro, com os synth-baixos e sequenciadores pulsantes e melodias alegres, que dialogam bem com o caráter descontraído da composição lírica. “Take My Call” tem uma atmosfera vibrante nos seus eletrônicos marcados por grooves disco. “Wet Hot American Dream” é uma das mais interessantes do projeto, por brincar bastante com os aspectos mais clichês do pop dos anos 80, tornando a superficialidade que é central no álbum mais natural e adequada aqui.

Se há faixas que mesmo num espaço muito genérico conseguem cumprir bem o básico, os momentos mais frustrantes acabam sendo aqueles que de fato possuem algum elemento interessante, mas como a produção é absurdamente limitada por aspectos extremamente industriais, ao longo da faixa essas qualidades vão se diluindo. “How Can I Dance” tem o uso de sequenciadores que remete ao electro-disco, uma boa escolha, que mesmo explorada de forma vaga ainda seria efetivamente cativante se as suas melodias não fossem óbvias e repetitivas, tornando a canção sem força. “Fight For Me” tem um groove envolvente reminiscente do R&B-pop dos anos 2000 e um bom refrão, porém a música rapidamente fica cansativa por não existir um desenvolvimento de suas idéias.

Essas faixas são, infelizmente, o que representa Don't Click Play: uma coleção de canções genéricas, feitas apenas para cobrir espaço nas rádios e playlists do Spotify, mas sem nenhuma personalidade, e que, por mais que existam coisas boas, pouquíssimas vezes a produção e a composição musical trabalham no potencial delas. É de fato um pop frívolo, mas existem maneiras de realizar uma proposta tão despretensiosa sem que se torne carente de alma, foi assim que Diamonds & Dancefloors se tornou o maior destaque de sua carreira, mas Ava Max falha em realizar o mesmo feito aqui.

Selo: Atlantic
Formato: LP
Gênero: Pop / Synthpop, Dance-Pop

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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