Crítica | O Início De Uma Lenda


★★★★☆
4/5

Havia em 30XMAGO, do DJ LK Da VB, um toque caseiro muito distinto quando comparado com os lançamentos recentes de funk. Era como se naquele álbum ele quisesse, de forma bastante expansiva, abordar centenas de questões entre influências, referências, estilos, técnicas e beats, que só as trinta e cinco faixas conseguiram condensar, pedaço por pedaço, a partir de suas considerações ao lançar um LP completo. Em seu novo álbum, O Início De Uma Lenda, notamos uma redução em todas essas questões e, como resultado, o material parece ser mais contido, mas não menos interessante. O que entra em jogo aqui é o que, de certa forma, não podemos simplesmente espelhar no funk, neste caso, as mudanças e evoluções que, em cenários como o pop, são mais perceptíveis seja pelo acesso diferenciado dos artistas a meios mais rentáveis de propagação, seja simplesmente pela lógica das "eras", que envolve também todo o aparato de marketing e distribuição. Não é o caso do funk, e é por isso que as mudanças que LK Da VB propõe no disco partem de um apelo característico dele, muito embora o produto apresente pouca variação estética de um álbum para o outro.

O Início De Uma Lenda, neste sentido, é como um recomeço. Um retorno em que o DJ, tendo abraçado um formato mais consistente – aqui, são apenas treze músicas e vinte e oito minutos de duração –, busca apresentar, novamente, seu portfólio para o público. E é notável como ele faz isso a partir de escolhas que já fizeram muito sucesso no álbum anterior, como os instantes estratégicos em que aciona o rolo compressor do tuim para instigar um momento de maior alucinação, recorrendo a ruídos que se condensam em ritmos tanto familiares ("Assobio dos Racionais") quanto àqueles que parecem, aqui, como uma miragem, e emergem do zero ("Bruxaria Diagnosticada"). De qualquer forma, é sua habilidade em criar ruídos em sintonia com a sonoridade que as raízes do funk, no caso, as comunidades, ouvem, que chama a atenção. Nos últimos meses, houve muitas críticas às formas que a bruxaria assumiu, flertando com a música eletrônica e suas variações mais formais, aquelas populares em festas universitárias e em casas de DJs que tocam gêneros mais populares no exterior. É por isso que faixas como "Real Bruxaria Periférica", com MC Lobão e MC Theus da Cg, também servem como uma mensagem de LK Da VB para seus colegas de gênero, destacando uma resposta e solução simples para qualquer discussão sobre o distanciamento da bruxaria de suas raízes. Na música, os versos dos MCs, o ritmo ditado pelas palmas, o riso do palhaço, o som que sugere um power noise sem realmente chegar lá são escolhas muito conscientes, e nada aqui é acidental. Por isso ele consegue dar início ao seu novo legado. Sinceramente? LK Da VB pode começar e recomeçar quantas vezes ele quiser e for capaz, percepção não lhe falta.

Selo: Executivo Records
Formato: LP
Gênero: Funk / Beat Bruxaria

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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