Crítica | BLACK STAR


★★☆☆☆
2/5

Ouvir qualquer disco de música pop atualmente tem sido uma tarefa difícil. Sempre existe uma grande promessa ou um suposto marco de inovação por trás dos pré-lançamentos: seja um trabalho extremamente pessoal, como a derrocada de Virgin, seja uma “reimaginação de sonoridades” que, na prática, de reimaginação não tem nada, como em Imaginal Disk. E toda vez que alguém levanta uma dúvida sobre esse esvaziamento, é hostilizado com fervor, sob justificativas rasas como “pop é isso” ou “é só pra se divertir”.

De fato, o pop sempre teve esse caráter de fluidez e aparente “vazio”. Nunca foi uma categoria rígida, já que se atualiza constantemente. Fountain Baby (2023) é um exemplo de como é possível renovar esse molde: o álbum trouxe para o pop sonoridades antes vistas como regionais, mas que, na abordagem de Amaarae, soaram tanto familiares quanto instigantes, uma vez que ela as unia sob prismas como R&B e, até mesmo, indie rock. Além disso, resgatou elementos do afrobeat, então já desgastado por artistas como Rema, e os devolveu com frescor.

Em BLACK STAR, Amaarae tenta repetir o feito, mas o resultado é uma opacidade frustrante. A diluição característica do pop, que em Fountain Baby vinha acompanhada de uma produção que dava ilusão de profundidade, aqui se torna superficialidade pura. A sensação é de que, mesmo de olhos fechados, o vazio das faixas se impõe. Reconheço, no entanto, o mérito de BLACK STAR em trazer, ainda assim, sonoridades que nele são trabalhadas com certo esforço criativo, como amapiano, merengue, neoperreo e até funk carioca, este último surpreendentemente bem utilizado. A presença de produtores brasileiros como Deekapz e MU540 é um ponto alto, especialmente depois de fiascos como “São Paulo”, de The Weeknd e Anitta, que deixaram pouca esperança de ver o funk respeitado fora do Brasil. Mas, para além disso, os pilares do disco acabam sendo o dance pop e o house, estilos que já soam saturados e previsíveis.

É por isso que a cada virada de faixa, a promessa de algo novo se dissolve, e é impossível sustentar o entusiasmo. Outro problema evidente está nas colaborações. “Starkilla”, parceria com Bree Runway, é o caso mais gritante. Bree, que desde 2016 explora o pop rap com originalidade, aparece aqui reduzida a repetir versos genéricos como se fosse uma assistente virtual. A participação não apenas desperdiça uma artista com identidade própria, como reforça a sensação de que BLACK STAR é um disco preso a um simulacro de ousadia e estagnação.

Para evitar que me tirem do contexto, preciso frisar que a minha crítica é em relação a BLACK STAR, e não à Amaarae. Fountain Baby segue, para mim e para o Aquele Tuim, como um dos melhores discos da década de 2020. O problema é que este novo trabalho revela uma queda brutal de consistência. No fim das contas, BLACK STAR é o típico “fogo de palha”, que na primeira audição, entrega pequenas surpresas e momentos de euforia, mas logo se revela um álbum difuso, sustentado por sonoridades genéricas sem estrutura clara. Uma obra que até promete muito, mas que, com o tempo, não se sustenta.

Selo: Interscope
Formato: LP
Gênero: Pop / Afrobeats, Dance Pop

Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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