Crítica | Pulse

★★★☆☆
3/5

Para quem não sabe, Qur'an Shaheed é uma artista completa, e completa mesmo. Ela é poeta, instrumentista, cantora, compositora e pianista clássica formada. Seu álbum de estreia pela Leaving Records, Pulse, articula essa variedade de interesses com maestria, refletida em suas escolhas musicais marcantes. Pode parecer, à primeira vista, apenas mais um projeto pop, mas surpreende pela estrutura robusta e criativa, com lampejos de improvisação, eletroacústica, texturas experimentais aguçadas e uma clara influência da composição clássica aplicada aos vocais, que dialogam com R&B e jazz.

É uma mistureba, sim, mas funciona muito bem. A faixa de abertura, "Dreams", já deixa claras as ideias que a artista busca perpetuar ao longo do álbum. Seus vocais parecem flertar com Solange e Jazmine Sullivan, enquanto o som se expande em tons quebradiços que lembram música concreta. Nos momentos seguintes, batidas manipuladas e fragmentos vocais se fundem com os pratos da bateria, como um aquecimento de banda de concerto. A faixa seguinte, "Fix It, Pt. 1", surge com dedilhados de piano, um conjunto de flautas e uma harmonização vocal quase fantasmagórica — a estrutura revela o R&B que define as raízes soul de Qur'an Shaheed.

É engraçado, porque ao longo do álbum, ela cria uma espécie de série de variações de uma única música. É como se ela estivesse tentando montar e desmontar o que criou a partir de sua composição, e é por isso que a segunda parte de "Fix It" é uma versão atormentada, cheia de rabiscos, reverbs, tons ambientais e tudo o que aterrorizaria o ouvinte mais básico. O mesmo acontece com a peça “Variation”, cuja experimentação começa logo na primeira faixa, “Variation 1”, com toques rápidos de piano e instrumentação violenta de harpa – é como se, aqui, Qur’an Shaheed expusesse tudo o que aprendeu desde os 4 anos de idade, fruto de elementos de improvisação livre e ideias composicionais fluidas.

Selo: Leaving Records
Formato: LP
Gênero: Experimental / Jazz