
★★★☆☆
3/5
A fusão de synths na faixa-título do novo álbum de Isabella Lovestory, Vanity, mostra por que o som produzido por ela carrega noções próprias e cada vez mais indefinidas – no bom sentido. Ao mesmo tempo em que corresponde ao neoperreo, a artista hondurenha busca impor características que, como neste disco, criam um vocabulário individual dentro dos diversos estilos que costuma abordar, tendo sempre como base suas raízes latinas na música pop e eletrônica.
Há, sobretudo, uma forte presença externa na construção de um som pop que dialoga com o que hoje associamos às tendências recentes de recuperação de um passado nostálgico. “Putita Boutique” grita Britney Spears, mas vai além, pois se trata de uma reimaginação de Isabella sobre as estéticas que formaram o que se convencionou chamar de Y2K. É curioso, porque se isolássemos sua voz e as bases com influência do reggaeton, poderia soar como mais uma tentativa de Tate McRae de imitar os anos 2000.
Isabella, no entanto, não imita nada. Ela adere a uma irreverência que nasce do fato de que sua música é, naturalmente, distante daquilo que os americanos insistem em apresentar como troféu de um período comercialmente grandioso. E nisso, ela tem domínio absoluto. Essa miscelânea faz todo sentido ao notarmos que cada faixa possui uma emoção própria, traduzida em uma musicalidade diversa. Talvez esse seja o maior ponto de interesse de Vanity.
É um álbum pop que, dado seu contexto de criação, pode ser consumido sem peso na consciência. Um disco que não teme ser exageradamente maximalista, com arranjos góticos como em “Fresa Metal”, incursões pelo industrial e flertes constantes com o hip hop, elementos que demarcam com frieza sua postura intimidadora, como em “Perfecta” e “VIP”. Tudo isso funciona porque Isabella, ao contrário de tantas divas, sabe como centralizar suas abordagens, imprimir frescor criativo e não tem medo do fracasso quando algo planejado não funciona. Talvez por isso Vanity seja, acima de tudo, um disco descuidado, desleixado. E é exatamente aí que reside sua maior sagacidade.
Selo: Giant
Formato: LP
Gênero: Música Latina/Hispanófona / Pop