Crítica | WE NEED TO TALK: LOVE


★★★☆☆
3/5

Quando Keri Hilson começa seu novo disco com um simples agradecimento, num trecho falado de entrevista, é como se estivesse batendo na nossa porta depois de um longo tempo fora. A introdução dura poucos segundos, mas diz muito, ela está de volta — com uma escuta aberta e o coração exposto. WE NEED TO TALK: LOVE é o primeiro álbum de estúdio da cantora desde No Boys Allowed (2010), e também o início de uma trilogia que ainda promete os capítulos Drama e Redemption.

Longe do pop vibrante de “Knock You Down” ou do girl power dançante de “Pretty Girl Rock”, o novo projeto aposta em um som mais cru, íntimo e maduro. Hilson se volta ao R&B de forma suave com letras confessionais e produção minimalista, um disco que não quer competir com os hits das plataformas, mas sim se reconectar com quem ficou, e com ela mesma.

Logo após a intro, “Naked (Love)” abre o álbum como uma declaração artística e emocional. Com uma base totalmente orquestral, Keri canta com vulnerabilidade, abrindo um diário, como propõe conceitualmente. É uma escolha ousada para começar e uma das mais belas do disco. A voz vem limpa, sem efeitos, como se dissesse: “essa sou eu agora, sem disfarce… e eu estou de volta”.

Daí em diante, o álbum caminha por trilhas mais familiares, mas ainda guiadas pela introspecção. “Bae”, primeiro single lançado, carrega o DNA clássico da artista, um R&B sensual, melódico, que fala de romance com muita doçura e entrega. Já em “Weigh Me Down”, o clima sobe um pouco — é uma das poucas faixas com energia mais acentuada, onde Keri canta sobre o peso emocional de uma paixão avassaladora “Gotta feel it one more time, just to know you're mine”.

O ponto de virada vem com “Searchin”, único feat. do disco. Ao lado de Method Man, ela mergulha no rap old school, com uma batida potente que sampleia “Victory” — clássico de Puff Daddy, Biggie e Busta Rhymes. É um encontro de gerações e de estilos, que traz um ar de rua à delicadeza do restante do disco. Ela mesma define a faixa como uma essência tribal e, ao mesmo tempo, aquele espírito nova-iorquino do Wu-Tang Clan.

O álbum é curto, com apenas nove faixas, mas isso é totalmente premeditado. Hilson não está tentando fazer um comeback com cara de festival, ela está recomeçando em outro tempo, em outro tom. Há uma beleza no fato de que Love não busca o aplauso fácil nem os charts, desde o início é uma conversa honesta, com espaço para silêncio, pausas e fragilidade.

No fim, é possível notar que a última música não aparenta um ponto final, ela deixa a sensação de que tem mais por vir. E isso faz todo sentido, depois de tanto tempo longe da música, Keri Hilson volta aos poucos, com cuidado, testando as águas antes de mergulhar de vez.

WE NEED TO TALK: LOVE é para ser escutado como quem lê uma carta antiga, aquela sensação de estar se reconectando com alguém que fez parte da sua vida, mas também se transformou. E Keri, agora mais do que nunca, parece pronta para continuar essa conversa.

Selo: Audible Art Club
Formato: LP
Gênero: R&B / Pop

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

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