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Uma das tendências que vem crescendo fortemente nos últimos tempos na música pop é a da EDM. Diversos artistas que pouco se relacionavam com certos cenários do gênero estão agora se aventurando nas sonoridades que o compõem, explorando suas possibilidades estéticas e criativas. Esse movimento se intensificou especialmente com o sucesso de BRAT, de Charli xcx, o exemplo mais recente e expressivo de um álbum centrado nesses estilos que alcançou projeção mainstream e vem sendo amplamente replicado pela indústria fonográfica.
Demi Lovato sempre esteve ligada a um espaço pop inerentemente mainstream. Com exceção de HOLY FVCK – um disco realmente singular em sua discografia por explorar o rock de forma mais crua e até se afastar, em alguns momentos, da visão pop do gênero –, todos os seus trabalhos anteriores se apoiam em sonoridades já consolidadas no mercado. Sob esse prisma, It’s Not That Deep, enquanto tentativa de Lovato de embarcar na atual onda eletrônica, representa o ápice da abordagem comercial que a tendência alcançou: uma visão acessível, que dilui suas características para se tornar o mais agradável possível ao grande público.
Ainda assim, é interessante ver Demi se aproximando de um som dance-pop despretensioso. O título It’s Not That Deep traduz bem o que ela propõe aqui, e é justamente o tipo de abordagem que valorizo em artistas pop dispostas a abraçar sua própria superficialidade para criar algo leve e divertido. Mais artistas deveriam se levar menos a sério, como faz Demi. No entanto, enquanto outros nomes que exploram esse mesmo som eletrônico recentemente têm apostado em um pop dançante e descompromissado, sem medo de soar intenso, Lovato escolhe caminhos mais óbvios de energia club que, em certos momentos, parecem contidos demais, evocando mais o tipo de dance-pop estéril que se ouve em lojas de departamento do que a atmosfera de uma pista de dança. São faixas geralmente simpáticas, com bons ganchos e produções básicas, porém eficazes, mas que funcionam melhor como trilha sonora para um passeio no shopping do que como a pulsação de uma festa animada, e é justamente aí que ela se distancia dos atos pop mais alternativos que também têm se apropriado dessas sonoridades.
“Frequency” e “Kiss”, nesse sentido, são os pontos mais fora da curva do disco. Ambas têm êxito ao lidar com o EDM sem medo de soar intensas ou “sujas” demais, é a representação mais próxima da diversão despreocupada que Demi parece almejar. “Frequency” aposta em refrões poderosos e drops com sequenciadores energéticos, resultando em um electro-house arrebatador; “Kiss”, por sua vez, é conduzida por eletrônicos pulsantes e uma aura descontraída, com uma performance propositalmente crua e inexpressiva que evoca a entrega típica de artistas do EDM-pop ligados a cenas mais underground. Já “Little Bit” traz a melhor execução de seu dance-pop simples e extremamente acessível, com instrumentação borbulhante e ganchos repetitivos absurdamente cativantes.
Com exceção desses momentos, It’s Not That Deep se mantém em uma zona segura, ainda que competente, que, embora extremamente trivial, cumpre o mínimo necessário para ser um álbum pop genérico e divertido. Mesmo assim, o disco evidencia como representa uma das abordagens mais sem brilho do pop centrado no EDM em comparação aos excelentes esforços artísticos em direção semelhante que marcaram 2024 e 2025.
Selo: Island
Formato: LP
Gênero: Pop / Dance-Pop