
O governador Cláudio Castro, num gesto que mistura despreparo e oportunismo, escolhe transformar a dor da favela em espetáculo político. Em vez de inteligência, aposta na barbárie. Em vez de política pública, escolhe o massacre. Sua retórica de manter a ordem é apenas o disfarce de uma busca ideológica por extermínio, uma tentativa de reafirmar poder à base do sangue periférico. Matar virou política de governo, e nas eleições do ano que vem, sabemos o que ele usará para angariar votos dos muitos cidadãos que acreditam que mortes como essas os deixarão em segurança.
Por este motivo, o que se vende como operação contra o crime é, na verdade, a continuidade de um projeto histórico de desumanização. As ações são planejadas sem qualquer base de inteligência real, repetindo o mesmo erro de sempre, no caso, tratar territórios inteiros como inimigos do Estado. Não há vitória possível nessa guerra, porque ela é fabricada para não ter fim. E, enquanto isso, o Estado que abandona, silencia e oprime é o mesmo que invade e mata…
Nós, que somos um site comprometido com o funk e com a valorização da cultura periférica, não podemos assistir a isso em silêncio. O funk, expressão legítima da vida nas favelas, é constantemente criminalizado, assim como seus criadores, o lugar onde vivem e suas vozes. Cada operação como essa reforça o ódio contra as pessoas que habitam neste contexto, e que além de sofrer com as facções, sofre com o Estado governado por um projeto de tirano que faz da máquina pública a maior facção de todas. O resultado é sempre o mesmo, com mães enlutadas, famílias alvejadas e infâncias interrompidas.
Nada justifica o terror de Estado. Nenhuma promessa de segurança e paz nasce do cano de um fuzil. O que se vê no Alemão e na Penha é o fracasso completo de uma política pública que não sabe, ou não quer, enxergar a humanidade da favela. O Estado que mata não é o Estado que protege. É o mesmo que condena à miséria e depois culpa o oprimido por resistir.
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