
★★★★☆
4/5
É interessante a relação de Rafael Toral com o jazz. Há muito ele pressupõe sua própria visão reconstitutiva das estruturas do gênero, como fez outrora ao impor sua guitarra elétrica em Spectral Evolution. Em Traveling Light, ele vai além e interpreta clássicos que marcaram o século passado, mas ainda centrado em sua perspectiva de exploração musical, com longas tomadas de instrumentais irreconhecíveis, criados quase do zero, e drones que, ao contrário do que se poderia supor, em momento algum soam sombrios; muito pelo contrário. Em momentos como “Solitude”, é possível sentir, apesar do vazio e da imensidão que ele compõe e arranja, um aperto, uma sensação existencial que causa arrepios na coluna, pois não é preciso que palavras sejam ditas para expressar o que ele sente, o que busca nos fazer sentir.
É o tipo de música que independe de barreiras exatas. Por isso, quem ouve jamais esperaria encontrar tais estruturas de jazz que ele sugere, mas elas estão lá, especialmente em peças como “You Don’t Know What Love Is”, cujos acordes transitam entre a estabilidade das notas e os lampejos de sopro que emergem em seu âmago, exatamente no centro da música. Essa passagem evidencia o trânsito de Rafael por escolas que são tão importantes quanto necessárias em sua formação. Ele é uma das mentes mais brilhantes da música na atualidade, e o sentimento envolto em Traveling Light realça cada um de seus esforços em pensar a música, a de hoje e a de décadas passadas. Por reflexiva e devocional que seja, sua obra sempre tem algo a revelar sobre a percepção do tempo. Toral é como um viajante: cada novo álbum é uma atualização em sua máquina do tempo, incrivelmente moderna e capaz de nos guiar pelo lapso entre a memória e o temor.
Selo: Drag City
Formato: LP
Gênero: Experimental