Crítica | KADARA


★★★☆☆
3/5

Em março deste ano, a cantora e compositora belo-horizontina Júlia Deodora lançou seu primeiro álbum autoral, KADARA. Com título originário do iorubá, o trabalho é pautado por discussões que giram em torno da ancestralidade e da autodescoberta — “kadara” significa destino, um termo que, como revelam as onze faixas do disco, define a trajetória da artista com a música.

Júlia começou a tocar violão aos doze anos de idade e, desde então, também se interessou pela composição. Não é uma história incomum, mas essa base fez-se fundamental para a concepção de KADARA, um disco cuja sonoridade introduz Júlia e seu violão como peças-chave que adentram os terrenos do samba, da MPB e do jazz. E, embora isso seja feito de forma tímida, com um apelo bastante voltado para a tradição — nesse ponto é difícil enxergá-lo como uma obra de grandes revelações —, existe um certo requinte na maneira como as melodias são conduzidas, em especial na faixa “Alumiô”, que impressiona pela fluidez.

Parte de mim pensa que uma abordagem mais intimista, com um foco ainda maior nessa relação artista-instrumento, seria um caminho para destacar os temas abordados pelo disco, que são, de fato, muito relevantes. Júlia canta sobre negritude, identidade, memória, e suas letras espelham as vivências de outras mulheres que, assim como ela, também querem contar sua história. “Nega Mina”, uma das canções mais belas do álbum, trata justamente disso e é um ótimo exemplo do porquê a sutileza funciona tão bem em KADARA: as palavras de Júlia saem com naturalidade e soam honestas o suficiente para envolver qualquer um por completo. Ela não pode evitar o seu canto — nós não podemos evitar ouvi-lo.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Música Brasileira
Marcelo Henrique

Graduando em Matemática Computacional pela UFMG e editor do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de Pop e R&B e Soul.

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