
★★★☆☆
3/5
Laufey se consolidou como um nome promissor na indústria fonográfica ao resgatar uma estética vintage do traditional pop, o que lhe rendeu da mídia a posição de artista pop responsável por “popularizar o jazz novamente”, já que esse segmento do pop contemporâneo sempre bebeu dessa fonte. Everything I Know About Love e Bewitched funcionavam porque, além do vocal cheio de charme de cantora de jazz, a artista equilibrava bem influências de jazz e bossa nova para construir arranjos sofisticados, capazes de sustentar emoções com naturalidade.
A Matter of Time segue a mesma lógica de carreira, centrado nas referências do traditional pop. O problema é que aqui falta vigor. O disco é competente, mas soa como uma repetição desbotada do que já havia sido feito, sem frescor. Ao abrir mão do diálogo mais direto com o jazz, perde justamente a textura que dava brilho à sua sonoridade. O resultado são baladas de aura vintage, arranjos orquestrais polidos e vocais ainda potentes, mas incapazes de carregar sozinhos a proposta, já que a instrumentação se acomoda em camadas previsíveis.
O álbum se apresenta como uma retrospectiva simpática do pop das décadas de 20, 30 e 40, mas privilegiando justamente os aspectos menos instigantes do gênero. Quando se revisita uma era, espera-se que se tragam de volta suas qualidades mais marcantes. Se Bewitched e Everything I Know About Love ofereciam leituras interessantes desse pop vintage contaminado pelo jazz e pela bossa nova, A Matter of Time carece de força: não é ruim, mas tampouco memorável. Parece um disco que poderia muito bem ter sido lançado naquele período, e que hoje estaria esquecido como uma peça menor na discografia de qualquer artista. É também o que representa na carreira de Laufey: um registro seguro, que reflete sua personalidade musical, mas revela uma estagnação preocupante.
Alguns momentos, porém, merecem destaque. “Clockwork” é a exceção mais notável, justamente por recuperar a força jazzística que falta ao restante, elevando a faixa acima da média. “Snow White” flerta com o folk e abre uma brecha de frescor dentro do álbum. Já “Mr. Eclectic” é uma das melhores tentativas de Laufey no terreno da bossa nova, porque investe de fato no ritmo e na percussão, aliando melodias sofisticadas a uma cadência marcadamente brasileira, algo ausente em outras investidas no estilo. Fora esses pontos altos, A Matter of Time permanece morno, um trabalho que se acomoda no mediano e deixa no ouvinte a sensação de indiferença.
Selo: AWAL
Formato: LP
Gênero: Pop / Traditional Pop