Crítica | Wishbone


★★★☆☆
3/5

Wishbone é mais uma aventura de Conan Gray por uma nova sonoridade em sua carreira após seu último disco, Found Heaven, que representou uma abordagem retrospectiva do cenário pop dos anos 80, em um disco que funcionava muito bem em sua proposta de ser um grande pastiche de todos os principais clichês oitentistas. Wishbone, por sua vez, se volta para baladas pop rock/indie com estruturas lustrosas e arranjos sofisticados e orquestrais. Essa é uma ideia interessante; uma busca por uma sonoridade que afirma uma identidade musical mais forte, se afastando do alt-pop genérico de Kid Krow e Superache, por mais que a execução tome altos e baixos.

Os singles, em especial, demonstravam uma direção artística muito acertada de Conan nessa produção pop rock carregada de acústicos e orquestras, que constrõem uma atmosfera apaixonante muito capaz de evocar seus temas de romance e paixão, os quais por sinal se mostram como as composições em que o cantor mais se abre sobre sua homossexualidade. “This Song” carrega melodias exuberantes, enquanto que “Vodka Cranberry” tem uma instrumentação que exibe muita emoção a partir de suas guitarras com tom leve e violinos.

O restante do álbum segue essa linha, com momentos que conseguem executar o êxito dessas faixas e outros que ficam no campo do decente, mas sem força. “Class Clown” é uma música que, por exemplo, tornava visíveis ideias com muito potencial, principalmente pelo seu alinhamento ao chamber folk na instrumentação, com seu estilo de dedilhar do violão em um aspecto que faz o som ter um timbre similar ao tocar de uma harpa, porém, as melodias são sem sal, falhando em demonstrar fortes emoções que nomes mais experientes dentro do gênero têm facilidade em fazer.

Os melhores momentos parecem surgir a partir de “Caramel”, especialmente porque as músicas começam a apresentar características musicais mais interessantes, e que não se limitam às réplicas do que já havia sido apresentado em “This Song” e “Vodka Cranberry”, já que em primeiro momento Wishbone fica muito preso aos mesmos elementos dessas canções. O disco, no entanto, evolui em construções musicais mais imaginativas. “Connell” é a melhor faixa nesse sentido, especialmente com a sua atmosfera densa e seu outro com as guitarras distorcidas e vocais que se tornam mais lentos, criando um ambiente sombrio.

Wishbone é, dessa forma, um passo a mais de Conan para a consolidação de uma persona artística sólida. Ainda que não seja completamente consistente, o registro evidencia uma direção musical muito mais promissora para sua carreira que os primeiros discos do cantor. Conan Gray está evoluindo de um artista do cenário alt-pop genérico que parecia ter pouco a oferecer para algo que artisticamente é, no mínimo, interessante de se acompanhar.

Selo: Republic, Universal
Formato: LP
Gênero: Pop / Pop Rock

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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