Clássicos do Aquele Tuim | Honeymoon (2015)


★★★★☆
4/5

Logo após chacoalhar o pop alternativo com “Video Games” e todo o rollout que a consagrou como “a garota mais depressiva da América”, parecia quase consenso que Lana Del Rey jamais se desvincularia da imagem construída por ela – e por todos ao seu redor – a partir de seus dilemas mentais, românticos e da exploração apocalíptica do amor, sempre temperada por um niilismo muito particular. Honeymoon, no entanto, surge como demonstração de que a artista não apenas recusava esse rótulo, como também fazia questão de tratá-lo com uma seriedade que só poderia vir dela. Seus temas confusos e extremamente sensíveis sobre relacionamentos permanecem aqui, mas com um autocuidado ainda maior, como canta em “God Knows I Tried”: “I feel free when I see no one / And nobody knows my name / God knows I live / God knows I died.” A faixa traz as bases instrumentais que definem a estética do disco e um jeito de cantar que, àquela altura, estava mais sussurrado do que nunca. O ponto de virada, porém, está na forma como Honeymoon se apresenta: nitidamente menos radiofônico que os discos anteriores e ainda mais denso tematicamente.

Para isso, Lana Del Rey recorre a uma sofisticação quase ilusória dentro do pop, acrescentando arranjos orquestrais em cada faixa e transformando estruturas rasas de baladas em piano em composições expandidas por elementos extras. É o caso do tom jazzístico de “Terrence Loves You” e de “Music to Watch Boys To”, que se esparrama por uma atmosfera nebulosa, em que o trip hop condensa qualquer dúvida de que Lana buscava uma expansividade rara em sua carreira. Não por acaso, o disco também está repleto de referências ao cinema, já explícitas na faixa de abertura, “Honeymoon”, que dita o tom cinematográfico do projeto. Se a artista se aprofundou em cada um desses elementos, não há como afirmar, pois talvez nem fosse essa sua intenção. O mais interessante é que, através deste álbum, Lana passou a introduzir elementos-surpresa que logo fariam de seus discos obras que quase dependem de um ponto de referência épico, coisa que tornou sua linguagem bem-sucedida a cada novo trabalho. É provavelmente daí que surge a escolha de encerrar o trabalho com “Don’t Let Me Be Misunderstood”, cover do clássico imortalizado por Nina Simone. Lana sabia que queria transmitir aos críticos a imagem de uma popstar repleta de qualidades e riquezas criativas – o contrário das impressões que havia causado com Born To Die. Ainda que muitos só tenham reconhecido isso mais tarde, com Norman Fucking Rockwell!, nós, que já a acompanhávamos em 2015, havíamos entendido o recado.

Selo: Interscope, Polydor
Formato: LP
Gênero: Pop / Art Pop

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

Postagem Anterior Próxima Postagem