Crítica | All I Wanted Was to Be Your Lover


★★★★☆
4/5

Confesso que esse artista apareceu na minha timeline do Spotify e me despertou um: "nossa, quem será esse novo artista negro que irei adorar?" É perceptível o meu consumo musical oriundo de artistas negros e gêneros afrodiaspóricos – notável nas minhas críticas por aqui.

vincethealien é um artista negro, queer e de Los Angeles, que mistura R&B progressivo com outros gêneros pop e há muita sensualidade nos arranjos escolhidos e nas performances da sua voz. Seu debut Rodeo Star, de 2020, tem uma atmosfera melancólica e sedutora, e foi daí que surgiram diversos singles e experimentações em álbuns e EPs. Li uma entrevista dele para a The Bears Network, onde conta sobre o impacto de ouvir “Ordinary Love”, de Sade, dizendo que é uma música que o assombra até hoje, mas que fez despertar um grande interesse em fazer/torná-lo algo na música.

Entre suas influências estão nomes como Nine Inch Nails, Maxwell, St. Vincent e Solange, revelando sua pluralidade e desenvoltura para experimentações dentro de um álbum, ou até mesmo em apenas uma faixa. Ele mesmo relata: “O conteúdo da minha música continua a evoluir, enquanto a mensagem principal é a autoexploração.” O resultado são discos que falam sobre sentimentos, muitas vezes totalmente fantasiados, como é explícito no seu mais novo trabalho: All I Wanted Was to Be Your Lover.

O álbum inicia com “Hungry, Thirsty, Yearning”, uma sonoridade introspectiva que incita algo mais profundo e pressupõe um trabalho voltado ao R&B contemporâneo. Já em “Blame Only Myself & Nobody Else”, o vocal é mais evidente, revelando uma lírica aguçada, e no último minuto somos surpreendidos por traços de rock e punk rock — guitarra e vocais estilísticos — que deixam a faixa potente e distinta. A faixa-título, “All I Wanted Was to Be Your Lover”, traz uma vibe parecida com a sonoridade da banda Muse, talvez até seja uma inspiração, e mais camadas de rock e vocais percussivos entram em cena, mudando a proposta inicial que a primeira faixa sugeria. Em “Backsliding (Ride)”, a ênfase está na performance, conduzindo tanto pela letra quanto pela sonoridade, com nuances eletrônicas.

Depois, “Uninvited Feelings” surge como um vocal de 49 segundos que funciona como interlúdio, mudando a intenção das sensações exploradas por todas as faixas até então. Na sequência, “Have I Finally Stopped Loving You Today?” traz um tom de superação ou encerramento de um ciclo afetivo, após termos passado por sentimentos não correspondidos ao longo do álbum — aqui com um leve balanço de reggae. “Pressure (Therapy)” encerra o disco com mais energia, trazendo influências de house que fortalecem essa virada de chave e soam como um aceno ao mercado da música eletrônica; facilmente poderia estar em playlists editoriais clubs.

Vejo muito potencial em vince. Ele precisa de uma base sólida de pessoas por trás para impulsioná-lo ao mercado midiático e ascender no cenário musical. Mas a musicalidade dele é algo diferente e pode ser bem trabalhada para abordar novos públicos e trazer esse formato de experiência para os ouvintes — algo fora do comum no cenário atual.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: R&B

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

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