Crítica | claraboia


★★☆☆☆
2/5

Os acordes acústicos até soam mais interessantes aqui do que em qualquer outro disco delas, aproximando-se melhor da ideia de folk que muitos costumam associar às suas bases instrumentais. A faixa com Bruno Berle aprofunda ainda mais essa relação de estilo – e é, sem dúvida, o ponto alto do álbum. O problema é que, para além disso, claraboia não apresenta absolutamente nada de diferente em relação aos últimos trabalhos lançados pelo duo desde que, sei lá… surgiram. A forma como cantam juntas, sempre em vocais compartilhados, acaba soando exaustiva conforme vão mantendo o mesmo tom do início ao fim. Dá uma sensação estranha, como se quisessem dar um sopro maior de voz, mas nunca chegassem lá. Os temas, por sua vez, são sempre os mesmos. É uma repetição sem fim. Deve ser ótimo ser fã delas e ter a certeza de que cada novo álbum trará exatamente o mesmo tipo de música que você já gosta de ouvir. Sem riscos, sem o desejo profundo de ir além.

É o tipo de música que conquista público da mesma forma que o sertanejo e outros estilos brasileiros de massa: com uma base devota, disposta a consumir, consumir, consumir e o fazer sem nenhuma hesitação. O que me incomoda, contudo, é como ainda recai sobre elas esse rótulo de “nova MPB”, ou até mesmo de MPB em si. Por um lado, isso até pode ser interessante, já que mostra a força e a permanência desse gênero numa indústria nacional cooptada pelo agronegócio. Mas a questão é outra: se elas são hoje a definição do que se chama MPB, então prefiro me colocar contra essa MPB. Prefiro ouvir coisas que realmente representem, tanto em força de princípio quanto em desejo de inovação, esse cenário. Afinal, a MPB sempre teve como sinônimo a expansão para além dos seus gêneros-chave. Aqui, não há nada disso. E sabem o pior? É que continuaremos ouvindo esse disco pelos próximos anos, enquanto elas decidirem lançar a mesma coisa quantas vezes forem necessárias pra lotar os teatros do SESI e SESC por aí. Pelo menos, há consciência delas nisso, como cantam em “3 am | espirais da repetição”: “Cantei os mesmos versos, toquei as mesmas notas”, pois é, nós percebemos.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Pop / Música Brasileira

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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