
4/5
Poucos lançamentos recentes conseguem explorar imagem, som e outras características estéticas de composição tão bem quanto Éric La Casa e Jérôme Noetinger em Off Tracks. O álbum foca na ocupação urbana – e na desocupação –, levantando questões não apenas sobre os ambientes, mas também sobre a vida – e, muitas vezes, sua ausência – nesses territórios vazios que parecem intocáveis, não no sentido de estarem distantes de nós, mas sim porque não despertam o interesse de quem se aproxima, de entrar, de usá-los. A descrição de Jérôme exemplifica a intenção deles em buscar esses lugares para fazer... música:
An exploration of buildings emptied of their activities, a crossing of spaces abandoned by their occupants, a drift through the ghostly trace of a vanished presence, a testimony to the general deterioration underway that also applies to the very medium of recording. And all this despite a mysterious presence that accompanies us throughout these tracks.
E nós, mais do que apenas acompanhá-los nessa jornada, nos tornamos parte dela. Suas captações ultrapassam a gravação de campo e os seus significados passivos: há, de fato, um esforço para que tudo se integre, de modo que possamos nos situar em meio a fragmentos vocais, ruídos e todo o resto que, ao longo do caminho, se soma ao ato de ocupação. Esse ato, aqui, ganha um peso sentimental, por nascer de uma experiência que toca alguns dos nossos sentidos mais humanos: é o descobrimento, a exploração, o caminhar pelo desconhecido… O interessante é que, em nenhum momento, o álbum utiliza esses elementos – e outros – para gerar ou sustentar musicalidade na estrutura. Muito pelo contrário: os sons se comportam como a antítese dessa máxima e, assim como Éric La Casa e Jérôme Noetinger, são invasivos, naturais; às vezes grosseiros, outras vezes até aterrorizantes, no melhor dos sentidos. Tudo depende da imagem que criamos, pois eles nos envolvem em idas e vindas de passos, ecos e zumbidos, objetos arrastados, conversas e diálogos cujo significado reside justamente na fugacidade desses instantes.
Ainda assim, há manipulações muito competentes no trabalho de dar substância a essas gravações, a essa invasão física. O som avança em texturas e camadas ambientais típicas da música concreta, e é a partir dessas formas mais esparsas de composição que emerge um quase-método, empregado aqui do começo ao fim. Trata-se de um estudo preciso, quase meticuloso, sobre como transformar incrementos externos em parte interna do tema que buscam desenvolver. É o tipo de música ambiente – ou qualquer outro nome que se queira dar – que ultrapassa a simples exposição de resultados ou a busca por imersão. É como se Éric La Casa e Jérôme Noetinger propusessem, de fato, um diálogo tridimensional entre o espaço, eles e nós.
Compre: Bandcamp
Selo: Erstwhile
Formato: LP
Gênero: Experimental