Crítica | The Prophet and The Madman


★★☆☆☆
2/5

Como leitor assíduo do Jazz.pt, fiquei chocado ao abrir a página inicial e ver a classificação atribuída ao álbum The Prophet and the Madman, que já estava no meu radar quando vi alguns seguidores do AOTY elogiarem a participação de Kamasi Washington em algumas das suas músicas. A cotação, que corresponde a uma estrela em cinco (1/5), causou espanto, mas acima de tudo, curiosidade. Li para crer. E para minha surpresa, decidi ouvir o álbum. Deixe-me dizer-lhe: não é completamente horrível. Os temas que Ami Taf Ra explora aqui são interessantes, pois partem de premissas literárias inspiradas em Khalil Gibran, que ela procura musicalizar, com uma certa compreensão do que o jazz pode teoricamente significar, e é precisamente aí que falha. O jazz há muito abandonou a ideia de ser a base de alguma exploração musical que não utilize a sua completude criativa – o seu som, os seus artistas, os seus instrumentos – como mera parte de algo que nem sequer corresponde à sua essência. E o álbum oscila em múltiplas direções: jazz espiritual, gospel, pop e uma dúzia de arranjos que, no fim das contas, não se assemelham a mais nada.

A presença de Kamasi Washington se reduz a solos fragmentados, instrumentais não intencionais e uma falta de profundidade que não usa o jazz simplesmente como meio de propagação; é um artefato mal utilizado. Em alguns momentos, me lembrou Janelle Monáe em The ArchAndroid, com a diferença de que neste grandioso e divertido disco havia um apelo pop lúdico, justamente brincando com elementos de jazz – e vocal jazz –, como se fosse uma banda intergaláctica em um filme de ficção científica, do tipo que vemos quando um personagem de Star Wars entra em um bar cheio de criaturas estranhas dançando bebop. O problema é que, aqui, essa dá a impressão de ser a intenção genuína de Ami Taf Ra, que parece se reduzir a uma paródia constantemente. É bastante precária, mas divertida. Pessoalmente, acho vantajoso quando há pelo menos algo para aproveitar, e este álbum se resume a isso. Volto à crítica do Jazz.pt para concordar com pontos como o que diz que ninguém que realmente goste e consuma jazz vai gostar deste álbum. Como gosto de jazz e pop, não o odiei. Mas também não gostei; há momentos em que beira o caricato, como é o caso de “Love” e “Children”.

Selo: Brainfeeder
Formato: LP
Gênero: Jazz / Jazz Espiritual

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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